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‘M3GAN’ : techno-horror aborda os impactos da tecnologia nas relações humanas | 2023

NOTA 6.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

Não é exagero dizer que a nossa geração é profundamente marcada por mudanças na história da humanidade. A radicalidade do desenvolvimento científico, sobretudo no campo da tecnologia, associado a rapidez com que ocorrem, trouxeram a reboque contradições que por vezes põem em xeque nosso processo de avanço civilizatório. Inteligência Artificial, Mídias Sociais, Manipulação Genética são apenas alguns exemplos do que pode ser o Ovo da Serpente pós-moderno. Sem abrir mão do bom humor, ‘M3GAN’, nova produção de James Wan, propõe uma discussão sobre os impactos nocivos do progresso científico e dá início ao que pode ser a próxima grande franquia de sucesso no terror.

A trama acompanha Gemma (Allison Williams), uma cientista que trabalha em uma empresa de brinquedos e que desenvolve uma nova boneca com inteligência artificial chamada M3GAN. Quando a sobrinha órfã de Gemma vai morar com ela, um protótipo da boneca passa a ser a melhor companhia da garota, porém as consequências desta "amizade" se tornarão aterrorizantes.

O filme contou com uma campanha publicitária pouco usual, mas extremamente bem-sucedida. Alguns meses antes do lançamento, um trecho em que M3GAN aparece dançando viralizou nas redes, sobretudo no Tik Tok. Todavia, se no campo do marketing a iniciativa se mostrou um acerto, a visibilidade também trouxe problemas. Devido ao alcance, foi decidido realizar alguns cortes e reeditar o longa de modo a torná-lo mais acessível ao público jovem, diminuindo a classificação etária. Uma atitude acertada do ponto de vista comercial, contudo covarde do ponto de vista criativo. No cinema em muitas ocasiões houve mudanças de curso por obra do acaso, especialmente no terror/suspense, gêneros muito afetados pela censura no passado. No entanto, é perceptível que nas cenas de maior violência, a construção inicial visava um conteúdo explícito e a ausência desse elemento diminui consideravelmente o impacto. Outro aspecto que coloca 'M3GAN' no “lugar comum” está no desenvolvimento dos chamados “personagens alvo”. Quase todo assassinato é precedido de um comportamento inadequado da vítima ou uma frase de efeito com algum grau de antipatia, logo, uma vez essa pessoa em perigo, o sentimento dificilmente vai ser de tensão ou senso de urgência, podendo inclusive descambar para a torcida pela consumação do crime. Entretanto, se a vilã está inserida num arco “vilanesco”, faz sentido a condução da narrativa de maneira a torcermos por ela e não o contrário? Já a conclusão eleva o nível ao assumir de vez o tom satírico sem hesitação. Nesse sentido, não se levar tão a sério pareceu uma forma mais adequada, forma na qual se mantida desde o início melhoraria a experiência consideravelmente.

O talento de James Wan para o terror é inegável. O cineasta é responsável pela criação das franquias de horror de maior sucesso deste século, como “Jogos Mortais” e “Invocação do Mal”, ambos extremamente lucrativos e cujo resultado gerou uma série de sequências e derivados. Embora aqui ele assine apenas a produção, a ideia partiu do realizador e tem sua assinatura. Infelizmente ideias não bastam e assim como uma boa piada, se mal contada, ela perde a graça. Em ‘M3GAN’ sobra apenas um episódio estendido e bem intencionado de Black Mirror que apesar de ter muito a dizer, carece de vocabulário para tal.










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