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'Ruído Branco'' : comédia de Noah Baumbach debate sobre as incertezas da vida | 2022

NOTA 6.0

Por Maurício Stertz @outrocinéfilo

O ‘medo’ tomará este texto em algum momento. Porque sentir medo é uma condição mundana. Além do instinto mais primitivo que nos condiciona ao agir, a racionalidade carrega consigo um remédio amargo à humanidade, o de adaptar-se e esperar sempre mais do futuro. Em contrapartida, surge o medo das incertezas e assim são dois pelo preço de um. Esse olhar mais pessimista se aloja nas entrelinhas da sociedade, que prescreve por conta seus medicamentos a todos nós, na tentativa de estampar uma felicidade artificial e a noção de que estamos indo para algum lugar em comum – Apenas abane e sorria-, como um placebo de boa aparência, em doses de realidade de oito em oito horas. Enquanto isso, o medo de envelhecer ou não ser bem-sucedido ou morrer se aconchegam dentre as frestas da sociedade. Ter medo é comum e esta crítica contém (os meus), como em 'Ruído Branco', novo filme de Noah Baumbach, estão todos os medos de uma família como máscaras bem colocadas.

Deixando esse pensamento mais abstrato de lado por um momento, 'Ruído Branco' começa como uma história comum para pessoas comuns. Existe uma clara delimitação dos eventos desencadeados na família (e na sociedade): um evento catastrófico. Vivendo em uma cidade americana qualquer, Jack, o pai e professor especializado em Hitlerologia, mesmo que não saiba uma palavra em Alemão, vê surgir uma nuvem misteriosa no céu com pouca atenção. Até então inofensiva à saúde humana, a preocupação só aumenta em progressões quase geométricas de intensidade conforme recebem mais informações e tudo desmorona, por fim, com a fatalidade que aquilo poderia causar. Se não havia preocupado Jack, até então destemido, esse evento chave, é o estopim para que todos os personagens, Babette e seus filhos, se movimentem em seus estágios mais íntimos, experimentem a vulnerabilidade, o condicionamento externo e sirva como o contraste perfeito para escancarar os medos que todos lutavam para esconder.

Durante todo o filme um tom ‘estranho’ deixa o ar conturbado, o diálogo soar incomum e os movimentos de cada um pouco naturais, mesmo com atuações convincentes dos  sempre excelentes Greta Gerwig e Adam Driver, existe, por certo, um descolamento proposital das realidades dos personagens, proposto, primeiramente, por um roteiro mais complexo nas mãos de Noah, já que é acostumado aos diálogos afiados e camadas mais sutis, como faz em 'História de um Casamento' e 'Frances Ha'. Entretanto, a mesma estranheza que acuso, é também um efeito adverso de 'Ruído Branco'. Enquanto algumas simbologias são claras e mesmo literais, outras apostam num bom senso exagerado do espectador para sua aceitação, que tem na experiência a desconexão (ou confusão), ora pela comédia inoportuna, ora pelas cenas (quase bregas) inspiradas em referências ao consumismo, para citar apenas um exemplo. Noah é um diretor aparente e todas estas iniciativas são sentidas, umas mais, outras menos, apesar de se arriscar pouco na direção.

Ao fim, 'Ruído Branco', realizado após o sucesso merecido de 'História de Um Casamento',  discursa, entre outras coisas, sobre um dos principais males deste século, elevando o medo da vida a um patamar cinematográfico, mas se percebe um placebo que indesejavelmente perde o efeito antes do esperado. É romantizar o pessimismo, antes que o medo tome conta novamente.







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