'Nossa Senhora do Nilo' : longa é espécie de prelúdio do massacre em Ruanda nos anos 90 | 2022
NOTA 8.0
Por Rogério Machado
Baseado no livro homônimo de Scholastique Mukasonga, 'Nossa Senhora do Nilo' chega ao cinemas brasileiros com o status de vencedor do Urso de Cristal da mostra Generation 14plus no Festival de Berlim em 2020. Sob a direção do afegão Atiq Rahimi o longa nos rememora do embate histórico entre Hutus e Tutsis, mas dessa vez num ambiente religioso e feminino. O longa é como se fosse um prelúdio a nos apresentar o que viria a se tornar o emblemático genocídio em Ruanda em 1994.
A trama de Rahimi se passa na Ruanda de 1973, onde conheceremos Nossa Senhora do Nilo, um conceituado colégio interno católico situado no alto de uma colina, onde garotas são preparadas para pertencer à elite Ruandense. Com a proximidade da formatura, essas meninas, sejam elas hutu ou tutsi, compartilham o mesmo dormitório e dividem sonhos e preocupações com o futuro. Mas em todo o país, assim como dentro da escola, antagonismos profundos se levatam, mudando a vida dessas jovens mulheres —e de toda a nação— para sempre.
As imagens desse simbolismo fazem alusão à violência genocida que em 1994 tomaria conta de todo o país. É como eu relato na chamada desse texto, a direção de Rahimi soa como um prelúdio do ódio que se espalharia no meio de um mesmo povo onde mais de 800 mil vidas foram perdidas.
O roteiro vai aos poucos indicando alguns debates a respeito do fundamentalismo religioso, do preconceito sempre presente nesse contexto, além do status social. Estamos em um lugar árido, onde a escola parece estar em um caminho de difícil acesso, mas todas as garotas ali faziam parte de um círculo social abastado, claro que para os moldes daquela sociedade. Os conflitos entre as Hutus e as Tutsis parecem não existir até certa altura, e quando as rixas emergem elas vêm com a soberba e a arrogância, adjetivos diretamente ligados a qualquer conflito.
A inserção de algumas lendas em relação aos antepassados dos povos retratados em algumas sequências são distrações que em nada complementam o discurso, ainda sim 'Nossa Senhora do Nilo', que entrou em cartaz na última quinta, tem muito a nos dizer sobre pensar melhor o presente para evitar tragédias no futuro. Confesso que cotidianamente me pergunto: até quando vamos reprisar os mesmos erros?
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