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'65 - Ameaça Pré-histórica' : filme estrelado por Adam Driver é cinema catástrofe em todos os sentidos | 2023

NOTA 3.0

Uma tragédia meteórica

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

Contexto. Toda história, para ser boa, precisa de um contexto. Claro, o contexto sozinho não garante uma boa história, mas não existe boa história sem ele. Há tramas onde a falta de informações faz parte da experiência da apreciação da obra, e o contexto se dá a partir disso como uma ferramenta narrativa - como é o caso de 'Amnésia' (2000), de Christopher Nolan. Infelizmente, conforme deduzi nos primeiros minutos de rodagem (dedução essa que se confirmou em cada um dos quase noventa minutos seguintes), contexto é exatamente o que falta para '65 - Ameaça Pré-histórica' sair do medíocre.

Este é um daqueles filmes que não consegue justificar nem mesmo a própria existência, que escolhe usar artifícios previsíveis de cartilha e que mais faz constranger do que entreter. Alguém um dia imaginou um cenário onde um homem adulto e uma criança cairiam por acidente naquilo que foi, segundo teóricos, o nosso planeta há 65 milhões de anos; e decidiu criar uma situação hipotética cujas fundamentações se limitam ao próprio imaginário, tudo para viabilizar que um astronauta caísse no tapa com dinossauros. O filme até tenta entregar algumas informações sobre o passado e a origem do protagonista, mas isso não basta para justificar a mitologia que propõe. O todo continua vazio e sem contexto, e vê-se que principalmente a questão celeste quanto a origem e destino termina jogada por terra tal qual a uma jaca madura, deixando o filme condenado a ser apenas uma obra sobre pessoas fugindo de monstros - o que não teria problema nenhum se ele fosse bom ou se ao menos funcionasse, se tivesse se assumido como um filme despropositado de camadas no que diz respeito ao objetivo dos protagonistas - como foi 'Mad Max: Estrada da Fúria' (2015) com toda a sua objetividade e ação memoráveis. Mas não, ele finge que tem algo a mais a dizer e se leva a sério demais.

'65' sofre do mesmo mal de 'Guerra Mundial Z', lançado dez anos antes. Em uma apresentação sem tempo para o público se conectar com os personagens (ou ao menos se importar com eles), o filme já emplaca logo uma situação de vida ou morte onde o contexto fica para outro dia. Em cinco minutos acontece um monte de coisas que não dizem nada (justamente pela falta de interesse do filme em estabelecer essa conexão necessária), havendo inclusive uma tentativa de suicídio tão vaga que, honestamente, ninguém se importa se vai ser consumada ou não. Depois disso tem uma historinha familiar recorrente, que surge em flashbacks sobre superar o que ficou para trás e que até tenta ser um plano de fundo para adicionar camadas - como um condutor moral para o personagem de Adam Driver - mas é um discurso que mira no Cortela e acerta em qualquer coach de terraço de esquina.

Certo como o excesso de informações ou explicações pode prejudicar a apreciação de um filme (quebrando alguns mistérios e tirando parte da "magia" do cinema), é igualmente correto também afirmar que a ausência de qualquer informação contextualizante impede a imersão. É como assistir um gameplay insosso de 1h30 onde o avatarzinho corre de um lado para o outro e nada o atinge. Ou Adam Driver tinha muitos boletos pra pagar ou acabou deixando o agente com raiva. Eta papel ingrato! O problema é que aqui não é transmitido nenhum risco real. Tudo é previsível e nenhuma problemática funciona de fato. Jumpscares nesse filme são mais gratuitos do que panfleto na rua. É triste, dado o potencial e o nome de Driver no elenco. Acontece que quando uma ideia é boa e a execução é ruim, compra-se o conceito e leva-se ele embora para casa após a sessão. Mas quando a ideia é ruim, não há execução que faça milagre e nem investimento milionário que o salve do fiasco.






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