'Desaparecida' : longa do mesmo diretor de ‘Buscando...’ repete a fórmula e o sucesso do antecessor | 2023
NOTA 7.0
Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica
A sétima arte sempre se apropriou de outras técnicas para se desenvolver, e o próprio surgimento do cinema está intimamente ligado a outras artes como a fotografia e logo depois, o teatro. As constantes evoluções tecnológicas propiciaram avanços na linguagem cinematográfica e, com o tempo, foram criando identidade própria e, por que não dizer, única. Câmeras menores geraram fluidez nos movimentos, o advento do som revolucionou a indústria e as novas lentes possibilitaram o ’close-up’ e a profundidade de campos, propriedades essas essenciais para o cinema moderno. Nos últimos vinte e cinco anos a tecnologia acelerou em proporções nunca antes vista. A popularização dos dispositivos portáteis deu origem ao subgênero ‘Found Footage’, em especial graças a repercussão de “A Bruxa de Blair” (1999) e de lá para cá muita coisa mudou. É curioso como essas novidades sejam assimiladas em um primeiro momento pelo gênero do terror, entretanto, faz todo sentido. As novidades tecnológicas apesar de bem recebidas trazem consigo uma boa dose de medo. ‘Pulse’ (2001) de Kiyoshi Kurosawa, por exemplo, em uma trama sobre fantasmas, foi o primeiro a inserir a internet como catalizadora de problemas presentes até hoje não só no Japão, mas em todo o mundo. A pandemia tornou ainda mais rápido esse progresso e o que antes era promessa, virou tendência. Os chamados ‘Desktop Movies’ são narrativas audiovisuais que se desenrolam inteiramente na tela do computador, usando os inúmeros aplicativos e programas como veículos para partes de sua narração. Ainda são poucos os que se destacam nesse novo subgênero, no entanto, nenhum até hoje repercutiu tanto quanto ‘Buscando...’ (2018) e dado o sucesso do mesmo, era só questão de tempo para uma sequência. Pois bem, a espera acabou e novamente Aneesh Chaganty acerta na fórmula e entrega um Suspense/Mistério de roer as unhas.
Durante as férias na Colômbia, Grace (Nia Long) e seu namorado Kevin (Ken Leung) desaparecem. Sua filha, June (Storm Reid), em Los Angeles, utiliza toda a tecnologia que tem disponível ao seu alcance para encontrar a mãe antes que seja tarde demais.
Embora o desenrolar dos fatos seja bastante clichê, como o conflito geracional entre mãe e filha, ‘Desaparecida’ se destaca pelo formato. A montagem é muito familiar aos usuários de rede social, sobretudo o ‘TikTok’, e esse é um aspecto que pode atrair os mais jovens e causar certa resistência aos mais puristas, aliás, basta associar qualquer coisa ao ‘TikTok’ para o comentário ganhar aspectos bem pejorativos. Até aqui, nenhuma novidade. O novo causa resistência e criticar o presente realçando o passado é quase tão velho quanto andar pra frente. O longa é objetivo já nos primeiros minutos quando os personagens são introduzidos através de diálogos breves e um flashback que nos dá pistas sobre eventos do passado que repercutiram ao longo da vida da protagonista. O cenário também ajuda a contar um pouco sobre June. À primeira vista o quarto da jovem pode parecer comum, porém lá ocorrem mudanças que refletem sobretudo a degradação de seu estado mental, além de potencializar o senso de urgência e perigo. Tão logo as cartas são postas na mesa e a investigação começa, muitas das decisões, motivações e soluções aplicadas a cada obstáculo tem como diretriz o avançar da narrativa, deixando em segundo plano qualquer compromisso de convencimento, contudo, o absurdo presente nesses momentos chave não são sinônimo de implausíveis. Qualquer um que já assistiu documentários ‘True Crime’ sabem a quão louca e reviravoltas mirabolantes uma história real pode ter. Diminuir uma ficção que se aproveita disso em prol do entretenimento é no mínimo preciosismo.
Uma das experiências mais ricas de se presenciar na sala escura é sentir (literalmente) e ouvir os expectadores reagirem aos desdobramentos. Em meio a isso, há alguns deslizes como personagens “muleta”, cuja finalidade é a criação de vínculos afetivos em meio ao perigo para gerar algum respiro entre os eventos, além de diálogos expositivos e facilitações narrativas que são perceptíveis e mesmo que isso tudo, de certa forma torne o projeto mais simplista, é preciso dar o devido valor ao direcionamento que tende ao mais popular. Não que isso signifique subestimar a inteligência de quem assiste e sim um progresso narrativo mais veloz e condizente com a proposta. O valor desse olhar precisa ser compreendido e de uma vez por todas parar de ser encarado como algo menor.
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