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'RRR' : épico indiano é o suprassumo do cinema blockbuster | 2022

NOTA 10 

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

É comum associarmos projetos de outros países fora do eixo EUA-Europa aos ditos filmes ‘cult’, entretanto, o cinema ao redor do mundo, assim como em Hollywood, se desenvolveu como indústria e portanto, longas de maior alcance popular, os chamados ‘blockbusters’, são sempre maioria. A Índia é a maior indústria cinematográfica do mundo em termos de venda de ingressos, a segunda em número de produções e provavelmente tem a maior diversidade dado o multiculturalismo de um país que só de línguas oficiais, possui vinte e duas. A tão conhecida ‘Bollywood’ é apenas uma entre tantas. Além dele temos pelo menos seis outros de grande alcance, dentre eles o ‘Telugu’ ou ‘Tollywood’. Cediado em Hiderabade, a cidade abriga o maior estúdio cinematográfico do mundo, o Ramoji Film City e é essa a origem do mais recente fenômeno indiano ‘RRR’. 

Ambientado na Índia pré-independência, acompanhamos Bheem (N. T. Rama Rao Jr.), um guerreiro camponês que busca resgatar a irmã, sequestrada por ingleses e escondida em algum lugar da capital. No caminho ele encontra com Alluri (Ram Charan), um policial a serviço do império britânico. Apesar dos interesses conflitantes eles criam uma amizade tão improvável quanto perigosa. 

Cenários pouco realistas, sequências musicais e atuações que valorizam o melodrama são características marcantes no cinema popular indiano, e muito embora esses elementos sejam familiares a nós latinos, um certo estranhamento inicial pode ser uma barreira. A começar pela estética assumidamente fantasiosa, que diferente da maioria dos filmes de heróis atuais, não tentam se aproximar de uma ação realista, muito pelo contrário, a coreografia das lutas em ‘RRR’ valoriza sobretudo o espetáculo e não possui qualquer comprometimento com o real. As motivações e reações tem um tom idealista e romantizado, típico dos mais clássicos melodramas, contudo, não muito distante do que estamos acostumados a assistir desde sempre nas novelas brasileiras ou mexicanas. Outro obstáculo, esse provavelmente o maior de todos, são as sequências musicais. No entanto, o uso da música tem um propósito objetivo e inteiramente incorporado à trama. A título de exemplo, na mais famosa delas, 'Naatu Naatu', indicada ao Oscar de Melhor Canção Original, vemos a dupla protagonista em posição de inferioridade em uma festa cercada de britânicos. O modo de se sobrepor àquela opressão foi justamente através do canto e da dança. Com isso, uma parte da história é contada, a trama avança e a parceria da dupla é reforçada contribuindo ainda mais para nosso envolvimento. 

As atuações de N. T. Rama Rao Jr e Ram Charan nos entregam um dos melhores “Bromances” (expressão para designar um relacionamento íntimo, não-sexual e romântico) dos últimos anos. Os desafios pelos quais os dois são submetidos por vezes traçam caminhos opostos, porém, em meio a encontros e desencontros, convergências e brutais divergências, o elo entre eles, simbolizado pelos elementos do fogo e  da agua, os torna ao fim, uma força da natureza. 

A Índia dos anos 20 era um território dominado e um povo extremamente oprimido e explorado.  Bheem e Alluri são baseados em revolucionários reais daquela época. Todo resto é a mais pura abstração. Passadas três horas arrebatadoras, fica claro que o realismo cínico hollywoodiano não daria conta de tamanho espetáculo que é a luta de um povo pela liberdade .





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