'Shazam! Fúria dos Deuses' : nova aventura da DC exalta amadurecimento com amor e sacrifício | 2023

NOTA 9.0 

Proibido shazanar dentro de casa

Por Vinícius  Martins @cinemarcante 

Enquanto assistia a 'Shazam! Fúria dos Deuses', me vinha ocasionalmente à memória uma cena de outra obra da DC - que, pelos motivos errados, acabou viralizando no final de 2021. Trata-se da série 'The Flash' (2014-2023), que por um descuido do mixador de áudio aqui do Brasil acabou deixando vazar um comentário do dublador Alexandre Drummond (voz do protagonista) sobre a qualidade do roteiro. Com um teor crítico, Drummond soltou um "olha que diálogo merda" (assista aqui) após ter que falar uma frase de efeito absurdamente cafona, posicionada para causar impacto numa cena de embate da oitava temporada - e o trecho foi ao ar, para desespero da Warner, que obviamente logo tratou de corrigir a dublagem. Mas o estrago já estava feito e com esse comentário tendo me rendido algumas boas reflexões anteriores quanto ao nível de qualidade das adaptações de HQs (principalmente do período pós-pandemia), a voz do Drummond ficou ressoando na minha mente de tempos em tempos durante a exibição do novo Shazam!.

Em todas as vezes que a voz do Drummond me veio à cabeça, no entanto, eu me vi ou rindo do humor desengonçado do filme ou envolvido em alguma profundidade com a jornada dos personagens. O resultado foi que ao invés de a cafonice ser um elemento a me desconectar do filme, acabou na verdade se tornando parte de sua identidade narrativa em um apelo nostálgico curioso (e não intencional) à 'Sessão da Tarde' dos anos 90/00. Claro, o filme está longe de ter o mesmo alcance e relevância que 'Os Goonies' e 'Conta Comigo' (de 1985 e 1986, respectivamente) tiveram com o passar do tempo, mas confesso que assisti-lo me foi tão agradável quanto rever os clássicos agora citados e mais ainda: despertou a criança que habita em mim e que ainda fica deslumbrada com aventuras feitas para assistir em família. 

Ocorre que 'Shazam! Fúria dos Deuses' é um filme incrivelmente virtuoso no que compete a "ficar com a pureza da resposta das crianças", e essa atmosfera de inocência e dilemas juvenis é tão charmosa quanto é brega, e funciona muito bem em sua intenção de dar um entretenimento emocional durante duas horas de gargalhadas, efeitos visuais e sonoros bem feitos, e mensagens sobre união e descoberta que destacam, principalmente, o amadurecimento e a autocompreensão de seus protagonistas. Helen Mirren e Lucy Liu se provam excelentes antagonistas, levando o trabalho a sério (como fez Jonathan Majors no recente 'Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania') e entregando performances com presenças imponentes e motivações cabíveis. Em essência, este novo filme resgata os elementos que deram certo no primeiro e elevam a uma outra potência, colocando não somente o herói interpretado por Zachary Levy em uma posição de relevância mas também todos os nomes que compõem a família Shazam, evidenciando com muita graça o elenco infanto-juvenil.

Com uma reprise dos acertos e erros do antecessor, é certo afirmar que quem gostou do primeiro filme tem tudo para amar esse daqui. A nova aventura do outrora chamado Capitão Marvel funciona muito bem, e o herói tem uma jornada de crescimento muito gostosa de acompanhar. Mas quer saber? Só a trocação franca entre Zachary Levy e Helen Mirren já vale o ingresso, com sua coreografia belíssima que aprecia as qualidades e limitações da atriz veterana e oscarizada. E assim, entre pessoas que fazem amizade no oftalmologista e pessoas que não podem morrer por terem chamado alguém de "querido", 'Shazam! Fúria dos Deuses' é uma diversão infantil necessária para tempos de tantos lançamentos seguidos de filmes cuja temática central gira em torno da sobriedade. Com seus diálogos merda carregados de ternura e estranhamente cativantes, o filme dá conta do recado. Poucas vezes vi adultos gargalharem tanto em um filme de herói como vi agora.

Ah! E o filme tem duas cenas pós-créditos, que criam mistério (e até alguma confusão) quanto ao futuro do herói na era Peter Safran e James Gunn que começará em breve na DC.