'Um Filho': longa estrelado por Hugh Jackman trata dos anseios da relação pai e filho | 2023
NOTA 6.0
Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica
O diretor e roteirista Florian Zeller chamou a atenção de Hollywood quando na temporada 2020/2021, sem muito alarde, emocionou a todos com o excepcional “Meu Pai”, o que lhe rendeu o Oscar de melhor roteiro adaptado e de melhor ator para o lendário Anthony Hopkins. Baseado em uma peça de mesma autoria, o dramaturgo e agora cineasta se fez valer de todo potencial do cinema para a adaptação, especialmente na montagem que realça a confusão mental da qual o protagonista vivencia devido a progressão de sua doença, além das ótimas performances de Olivia Colman e do já citado Hopkins. Porém, após realizar um dos melhores longas daquele ano, foi inevitável cultivar expectativas para o próximo. Em seu novo projeto, “Um Filho”, Zeller nos lembra o quanto esse sentimento pode ser inimigo da realidade.
Na trama acompanhamos Nicholas (Zen McGranth), que anos após o divórcio de seus pais sente que não pode mais viver com a mãe, Kate (Laura Dern), e vai morar com seu pai, Peter (Hugh Jackman) e sua nova parceira Beth (Vanessa Kirby). Em meio a um momento profissional promissor, Peter se esforça para cuidar de Nicholas, que apesar de buscar proximidade, tem grandes dificuldades em se relacionar, o que o faz se sentir desconectado do mundo e de todos à sua volta.
Antes de mais nada, não se trata de uma sequência. A similaridade nos títulos pode confundir, entretanto o filme em nada se assemelha ao longa de estreia do diretor. Na verdade, é difícil se convencer de que foram feitos pelo mesmo realizador. Enquanto “Meu Pai” apresentava traços autorais e prenunciava o surgimento de um novo grande nome na indústria, “Um Filho” é banal, simplório e formulaico. Não que seja um desastre, afinal a atuação de Hugh Jackman é de altíssimo nível e a temática tem seu valor, abrindo para discussão assuntos de extrema relevância. O problema está na forma e na queda no padrão de Zeller, cuja qualidade em pouco menos de dois anos foi de obra-prima para um mero drama de sessão da tarde.
No elenco o destaque é, sem dúvida, Hugh Jackman e sendo a história contada sob a perspectiva de seu personagem faz com que nada do filme fique abaixo do razoável, muito embora a interação com os demais seja bastante desequilibrada. Laura Dern tem seus momentos e faz muito bem com o pouco que tem, já Vanessa Kirby tem atuação discreta, que não compromete embora não acrescente em quase nada. Anthony Hopkins é outro que aparece pouco, contudo é dele a melhor cena do filme. Mas se o desequilíbrio é um problema constante, a presença de Zen McGranth em tela faz a produção cair de vez. Enquanto os demais apresentam performances realistas, pouco ensaiadas e com margem para improviso, o jovem rapaz parece deslocado em um palco de teatro. Ser “teatral” não tem implicações pejorativas, afinal, existem trabalhos em que ela é altamente recomendável, no entanto, não é o caso em “Um Filho”, fazendo com que o jovem ator destoe da proposta, e como a grande maioria das tensões narrativas estão concentradas nele, o impacto dramático é seriamente comprometido.
O filme foi exibido no festival de Veneza em setembro de 2022 e a baixa repercussão na época deixou pistas para o que viria. Seria “Meu Pai” um lampejo de genialidade de um artista mediano ou “Um Filho” fruto de um bloqueio criativo de uma mente brilhante? Nos resta esperar e torcer pela segunda opção.
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