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'Skinamarink : Canção de Ninar' : horror experimental canadense tem proposta arrojada que pode tirar teu sono | 2023

NOTA 8.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica  

Geralmente quando ouvimos algo do tipo “esse filme é para poucos” é quase certo se tratar de um comentário esnobe e presunçoso cujo único intuito é “elevar” a própria imagem de quem o emite. Porém, toda regra tem sua exceção e ‘Skinamarink: Canção de Ninar’ possui um público-alvo tão específico que literalmente foi feito para poucos.   

Na trama acompanhamos duas crianças que acordam durante a noite e não conseguem encontrar os pais. O desespero aumenta quando elas percebem que as janelas, portas e outros objetos da casa simplesmente desapareceram.  

Devido ao seu teor experimental, o longa possui diversas barreiras restritivas, a começar pela recomendação prévia de assisti-lo de luzes apagadas. A demanda por uma preparação como essa pode parecer preciosismo, no entanto, analisada a proposta, esse simples ato é mandatório para completa imersão. O projeto por definição tem como intenção simular o medo infantil (e universal) do escuro e da solidão (ou abandono). Mais leituras podem surgir no decorrer da projeção, como memórias, traumas e paranoias, contudo, a sensação de pesadelo é central. Outro aspecto determinante (talvez o principal deles), que pode atrair ou repelir o expectador é a relação de cada um com os elementos centrais do filme, em especial com a escuridão. Basta se perguntar; estando sozinho, qual a sensação predominante ao apagar das luzes? Se a resposta for conforto ou relaxamento, as reações que o longa pretende evocar dificilmente funcionarão. Já para aqueles que em algum nível tem aversão ou até fobia, a experiência provavelmente atingirá seu objetivo.   

O ritmo é lento, todavia, atende a proposta ao estabelecer um processo gradual de desorientação, sobretudo através da repetição de imagens e diálogos desconexos, esses por vezes como sussurros provenientes dos cantos ocultos da casa. A pouca visibilidade e a angulação nos impossibilita enxergar a totalidade dos cenários, sendo a fria e cintilante imagem azul da tevê a única fonte de luz do lugar. Aos poucos a geografia da casa vai perdendo sentido e a materialidade vai dando lugar a um estado de confusão constante e angústia inconsciente.   

O título tem origem em uma canção chamada “Skidamarink” ou “Skinnamarink”, dependendo da versão. Trata-se de uma canção infantil popular nos EUA escrita em 1910 para uma produção da Broadway chamada 'The Echo'. A palavra em si não tem significado nem tradução para o português.   

Em meio a tanto conteúdo “formulaico”, é interessante apreciar um trabalho experimental tão ousado e tão contrário às tendências comerciais vigentes. Muito embora não seja sinônimo de qualidade, essa ousadia e originalidade é certamente um ato de coragem. A iniciativa foi devidamente recompensada, com um orçamento de míseros 15 mil dólares, a arrecadação já ultrapassa 1 milhão. Um verdadeiro sucesso do ponto de vista comercial e por que não dizer, artístico! Afinal, independente da recepção mista do público, na era do algoritmo, qualquer lampejo de autoralidade é um alívio. 






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