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'Alcarràs': longa acompanha diferentes gerações de uma família diante da iminente perda de suas raízes | 2023

NOTA 8.0 

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica  

Em uma região remota e agrícola da Catalunha vivem diferentes gerações de uma família cuja propriedade dará lugar a painéis para produção de energia solar. Na ausência de papeis que lhes garantem o direito à terra, eles precisam colher tudo o que plantaram até o final do verão. 


Seguindo uma estrutura realista e pouco afeita ao melodrama, o longa acompanha a rotina de pessoas que, assim como se espera do estilo de vida interiorano, possuem um cotidiano moroso, algo que se convencionou chamar de “viver o tempo da terra”. Essa cadência é refletida no ritmo do filme, de maneira que os planos são mais longos, geralmente com enquadramentos compostos onde a paisagem se sobrepõe aos personagens. Essa montagem minimalista e de poucos cortes obedece a lógica contemplativa que a imersão na trama exige. 

Apesar da problemática apontar para um fato trágico, os conflitos não fazem parte da trama central, já que a diretora Carla Simón, com um olhar quase documental, opta por privilegiar um ponto de vista mais observador e menos reflexivo. Não se trata de um filme denúncia, de modo que cabe ao público as múltiplas possibilidades de leitura. O patriarcalismo do chefe da família, a passividade da mãe, o filho mais velho tentando provar seu valor, as angústias da filha adolescente, o sentimento de culpa do avô, a contradição contemporânea que é o desterro de pessoas para dar lugar a equipamentos geradores de energia limpa. Não há julgamento de valor em nenhum desses elementos, apenas e tão somente a realidade sendo retratada. 

Vencedor do Urso de Ouro no festival de Berlim 2022 e escolhido para representar a Espanha no Oscar, sua abordagem mais “crua”, para nós, latinos de formação audiovisual proveniente majoritariamente das telenovelas, pode ser uma barreira uma vez que destoa da dramaticidade tão presente nas nossas raízes, entretanto é notável quanta força cabe na sutileza, e “Alcarràs” é, sem dúvida, prova viva disso. 











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