'Beau Tem Medo' : nova louca viagem de Ari Aster se apoia na versatilidade de Joaquin Phoenix | 2023
NOTA 6.5
Por Rogério Machado
Beau Wassermann está sempre fugindo de tudo e todos. Tem sempre alguém pronto pra lhe ferir e isso é motivo de uma tormenta constante e sem limites. Beau tem uma imagem frágil mas não cede à violência e está sempre esperando o próximo episódio de horror que pode vir de qualquer parte em sua direção. Apesar dessa abertura catártica e tensa, o novo filme do aclamado Ari Aster, de 'Midsommar - O Mal Não Espera a Noite' (2019) e 'Hereditário' (2018), se diferencia muito dos trabalhos que o apresentaram como o novo nome do horror. 'Beau Tem Medo', que acaba de chegar aos cinemas, é uma salada de gêneros: comédia dramática, suspense psicológico, humor negro e ficção cientÃfica misturados numa metalinguagem que é até atrativa, mas que perde força pelas escolhas de cunho duvidoso no meio do caminho.
Ambientada em um presente alternativo, a trama acompanha Beau (Joaquin Phoenix), um homem extremamente tenso e paranoico que nunca chegou a conhecer seu pai e tem uma relação complicada com uma mãe dominadora, Mona (Patti LuPone). Quando Mona morre em um acidente trágico, Beau precisa pegar um avião e ir até sua antiga casa para o funeral, mas a viagem acaba sendo dificultada por uma série de acontecimentos imprevisÃveis que parecem tentar desviá-lo de sua jornada. É nessa hora que Beau deverá enfrentar seus piores - e mais absurdos - medos se quiser chegar ao seu destino.
A ainda recente filmografia de Ari Aster até então nos mostra um caminho que tende a seguir pelo horror, e embora 'Beau Tem Medo' não exatamente desconstrua esse pensamento, é nÃtido que aqui ele intenta quebrar esse paradigma e amplificar a ideia de que o realizador não quer ser colocado em uma caixa. Seja correto ou não pensar assim, (só o futuro dirá) o fato é que na ousadia de apresentar algo extremamente original, Aster acaba extrapolando a barreira do bizarro. Essa é a palavra que talvez melhor defina essa nova empreitada, que ao discutir esse relacionamento tão intocado e vulnerável, peca justamente ao inserir nessa ciranda a masculinidade frágil desse herói incompreendido. São recortes de gosto altamente questionáveis para demostrar os demônios mais escondidos de Beau, saÃdas criativas que destoam do tom lúdico alcançado até certa altura.
Ao contrário do que muita gente possa estar dizendo por aÃ, as três horas cravadas de duração nem foi exatamente o que mais me incomodou, muito pelo contrário, Ari Aster mostra total domÃnio na condução e por mais incrÃvel que essa afirmação possa parecer, a candência fluida alinhada ao talento inquestionável de Phoenix é o que consegue segurar o público na cadeira, e o melhor, sem piscar. Sinceramente não consigo ver outro ator cumprindo tantas proposições em um roteiro tão complexo com tamanha autoridade.
Entretanto, se existem falhas para algumas representações outras nos tomam por completo, como a da busca pelo pai numa roupagem teatral e colorida, além dos embates com a mãe. E esses podem estar entre os momentos que se tornem unanimidade entre a crÃtica e a audiência: a veterana Patti Lupone como a mãe que representa o grande medo na jornada de Beau. São poucas cenas, mas é o suficiente para elevar o passe da nova produção do A24. 'Beau Tem Medo', a maior abertura que um filme independente teve no Brasil até agora, fica na divisa do genial com o ordinário, não vai marcar a carreira do realizador mas servirá de exemplo pra ele mesmo que apostar alto pode representar correr altos riscos. Parece que ele sabe que de alguma forma sempre valerá a pena.
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