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'Mistério em Paris': Adam Sandler e Jennifer Aniston replicam dupla carismática em comédia investigativa | 2023

NOTA 5.0

“Não se mexe em time que está ganhando”.

Por Maurício Stertz @outrocinéfilo 

A máxima saída diretamente dos esportes coletivos parece fazer sentido em vários momentos da vida, a fim de exemplificar que as virtudes e acertos de um passado recente poderiam garantir a (mesma) vitória de um futuro descontextualizado. Esse ditado popular é uma análise simplista e pode até funcionar nos esportes, mas quase nunca no Cinema. Isso porque, apesar de a arte poder ser emprestada quantas vezes possível, é preciso que o toque final do realizador apareça ou teríamos somente histórias iguais em diferentes estilos. Sem dúvidas que um dos grandes roubadores profissionais é Quentin Tarantino, que toma de todas suas inspirações passadas na história do Cinema, sempre com a sua autoridade para mexê-las e fazer a arte, por fim, especificamente sua. Esse é um dos grandes erros de cineastas aceitarem acertos com a simplicidade de máximas esportivas. Uma zona de conforto perigosa e preguiçosa que, comumente, significa um fim precoce a qualquer filme e nenhum acerto mesozoico poderia o salvar. 

Com o lançamento de 'Mistério em Paris', marcando a volta do simpático casal Spitz, protagonizado pela dupla Adam Sandler e Jennifer Aniston, tive o cuidado de assistir o filme que precede esta continuação, 'Mistério no Mediterrâneo'. A premissa era simples: Nick e Audrey saem em uma viagem de Lua de Mel planejada às pressas e acabaram no lugar errado, na hora errada por pura obra do destino. Uma coisa leva a outra e acabam investigando a morte de um bilionário em seu próprio Iate, rodeados por possíveis (e caricatos) suspeitos. Com o humor menos escrachado ao que estamos acostumados à figura de Sandler, o primeiro filme se apropria aos poucos da metalinguagem para brincar com o gênero, nas telas ou na literatura (especialmente Agatha Christie), com espaço para as mesmas reviravoltas e clichês rebatidos fielmente pela evolução do tempo. 

Curiosamente esta poderia ser a exata sinopse de 'Mistério em Paris', alternando-se apenas o local e o crime que aconteceria – mera formalidade. Com mais experiência, Nick e Audrey agora têm sua própria empresa de investigação, mas acabam no lugar errado, na hora errada (outra vez) e precisam investigar um sequestro (para não ser exatamente igual). Os personagens são os mesmos do primeiro filme, caricatos e cômicos, cada um a sua maneira. O grande problema é que o filme dirigido por Jeremy Garelick tenta se apropriar de todas as virtudes que havia identificado no Iate em alto mar: além de possuir a mesma estrutura, o roteiro percorre as mesmas linhas, até mesmo reciclando as piadas, que perdem substancialmente o timing cômico que havia funcionado antes. Até mesmo a metalinguagem é reaproveitada e como uma sacola reciclável, o filme acaba sendo vazio, sem fundação artística e quase que uma continuação desnecessária por completo. 

Para não ser injusto, 'Mistério em Paris' tem lá seus bons momentos, como ver novamente o carisma de Sandler-Aniston se consolidar em tela e as sequências que compreendem o casamento indiano dos lugares paradisíacos às cores vibrantes dos trajes usados. O filme pode até funcionar individualmente para quem gosta do gênero, apoiando-se na trama de investigação clássica (como o primeiro havia funcionado), porém não avança em nada como uma continuação e termina parecendo apenas um salto para uma nova franquia Netflix. Fora isso, errando ou acertando, teria sido muito melhor ter “mexido” ao menos um pouco neste time.




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