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'A Pequena Sereia' : remake em Live-Action é o espetáculo que se espera da Disney, ainda bem! | 2023

NOTA 9.0 

Tem alguma coisa diferente em você

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

A Disney descobriu a mina de ouro que existe na reciclagem, e decidiu se dedicar mais a revisitas reimaginadas às suas obras clássicas do que a conteúdos propriamente originais. Fato é que o descontentamento massivo do público com algumas dessas releituras tem surtido um efeito negativo na percepção dessa moda de conversão a live-actions que tem tomado conta do estúdio há mais de uma década. Pode-se contar nos dedos quais dos últimos relançamentos foram bons, tendo em vista que obras "sagradas" do estúdio foram profanadas por ele próprio em prol de um lucro fácil e apelativo à memória infanto-juvenil do público adulto. Todavia, algumas obras dessa leva conseguem furar a bolha e se mostram cativantes - e até mesmo relevantes em sua concepção. É o caso, felizmente, de 'A Pequena Sereia', que chegou aos cinemas sob a direção de Rob Marshall.


Antes de continuar com quaisquer críticas ao filme, é importante comentarmos o elefante na sala. A pequena sereia desse filme é preta. E daí? Essa característica física, que a diferencia de imediato da Ariel da animação, é um traço não somente esquecível após o primeiro minuto da aparição da atriz Halle Bailey em tela (e digo esquecível porque facilmente se esquece que a Ariel do desenho não é preta) como também é algo que se estabelece com propriedade como aquilo que sempre foi: um ser mitológico e fantástico que pode ter qualquer tipo de rosto - e essa mensagem é muito bem apresentada sem a necessidade de verbalizações. Bailey está tão bem no papel e tem tanto talento para sua personagem que ouso arriscar que daqui em diante vou lembrar primeiro dela quando o título do filme surgir em alguma conversa, e não na figura branquinha de olhos verdes da animação de 1989. A polêmica dos comentários babacas e criminosos contra a etnia da atriz confirmou a própria estupidez perante o gigantismo das qualidades que Bailey agrega à personagem. Ela é uma Ariel perfeita.

O filme segue as mesmas curvas da animação, recriando inclusive algumas cenas quadro a quadro. Acontecem as mesmas viradas, a ameaça vilanesca é igualmente megalomaníaca no terceiro ato e a jornada de Ariel não muda nada de forma abrupta, tudo é exatamente como nos lembramos. Contudo, por mais contraintuitivo que possa parecer, este filme é diferente. Aqui há espaço para o acréscimo de camadas aos personagens secundários (uns com sucesso e outros com cenas tão descartáveis quanto constrangedoras), há um desenvolvimento melhor de motivações e há também uma consciência sempre presente da importância das mensagens que o filme passa. A estética do filme reforça o viés fantástico com um colorido saturado e atípico para o fundo do mar (talvez uma herança crítica deixada por James Cameron após 'Avatar: O Caminho da Água', de 2022), que se contrasta com algumas cenas bem escuras tanto dentro quanto fora d'água (tomadas desnecessariamente escurecidas, talvez para maquiar alguma deficiência no CGI, principalmente na transformação de Úrsula ao final do filme e na galeria de souvenirs de Ariel).

O 3D das cenas do fundo do mar tem uma ótima profundidade (ba-dum-tisss), e o filme me fisgou com facilidade pelas cantorias da sereia que trazem de volta as melodias da animação. As canções originais não agregam em nada ao filme como um todo, e a canção do príncipe nos penhascos mais parece uma paródia estrelada por Owen Wilson do que uma declaração romântica. O design de produção é competente, e a direção de Rob Marshall entrega um espetáculo que o público almejava encontrar em um filme desse porte. É uma produção de alto nível, com altíssimo investimento, e que vale cada centavo do ingresso, principalmente para uma sessão lotada. Fica agora a esperança de que o estúdio mantenha esse padrão de qualidade e pare de entregar seus Pinnocchios desastrosos como tem feito por esses tempos.








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