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'A Primeira Morte de Joana': obra premiada em Gramado aborda amadurecimento feminino com sensibilidade e regionalismos | 2023

NOTA 6.5

Por Marcello Azolino @pilulasdecinema

A partir da morte da tia de Joana (Letícia Kacperski), Rosa (Rosa Campos Velho), uma idosa que faleceu aparentemente sem ter tido relações amorosas durante sua vida, começa uma série de especulações sobre o porquê daquela senhora não ter experimentado as convenções conjugais e sexuais da sociedade tradicional. No caso, a história se desenrola na região das lagoas do Rio Grande do Sul próximo a um Parque Eólico no ano de 2007.

Joana aos 13 anos de idade mora com sua mãe desquitada e sua avó, família de descendentes de alemães que obtêm seu sustento cozinhando e vendendo Cucas na Feira da cidade. Joana passa a maior parte do tempo conversando e explorando os cenários naturais com sua amiga Carolina (Isabela Bressane) e ambas passam pelo processo de transição entre a infância e a adolescência com seus questionamentos naturais sobre o primeiro beijo, suas atitudes rebeldes e os hormônios a flor da pele.

Neste cenário bucólico, ressaltado pela fotografia quase opaca e dessaturada do filme, acompanhamos esta explosão de “Coming of age” das duas personagens buscando entender sua sexualidade, bem como um descompasso entre as meninas e a população retrógrada da Comunidade. “A Primeira Morte de Joana” encontra inclusive ecos familiares em outro filme célebre recente, o belga “Close” que foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional este ano. Ambos exploram a visão nociva do outro, do terceiro que julga e impõe especulações às relações sadias e naturais humanas que muitas vezes acabam ganhando contextos e rótulos prejudiciais diante do julgamento alheio.

A direção e o roteiro sensível de Cristiane Oliveira garantem um drama que vez ou outra arranca humor dos diálogos em interações com particularidades regionais entre as personagens, especialmente no núcleo familiar de Joana, que ganha frescor com as atuações de Lisa Gertum Becker e Joana Vieira.

“A Primeira Morte de Joana” ganhou merecidamente três Kikitos no Festival de Gramado de 2021: Melhor Longa do Júri, Melhor Montagem e Melhor Fotografia. Filmado no período pré pandêmico, em 2018, a obra encontra agora respiro no retorno ao funcionamento normal das salas de cinema, lugar aonde merece ser descoberto pelo público brasileiro em busca de boas histórias.





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