'Peter Pan & Wendy' : Live-action é fábula que definitivamente não pretende envelhecer | 2023
NOTA 6.0
Por Maurício Stertz @outrocinéfilo
Que Hollywood vem sendo criticada por uma aparente crise criativa, não é nenhuma novidade, basta ver as atualizações, refilmagens e live-actions saídos dos grandes fornos industriais nos últimos anos. A Disney, por sua vez, que detém o “pensamento” de algumas das mais notáveis fábulas do Cinema das décadas passadas, segue aproveitando frutos tardios, mas muito lucrativos. O exemplos estão na onda recente de live-actions produzidos, como 'Pinóquio', 'Peter Pan e Wendy' e, em breve, 'A Pequena Sereia', sem contar as inúmeras séries lançadas todos os dias.
Confesso que Peter Pan não é dos meus filmes favoritos do estúdio e que não tenha assistido à extrema exaustão quando pequeno, para alívio de meus pais. Ainda assim, sempre o considerei como uma das mais puras e belas mensagens dentre os exemplos do vasto catálogo de fábulas Disney, conforme cresci e passei a entender melhor seu significado - irônico, não é?! -. Peter Pan, Wendy e Tinker Bell enfrentando Capitão Gancho em uma jornada pela Terra do Nunca, onde a fantasia é a faísca sempre presente e não os permite envelhecer, envelopando com a exatidão irretocável a ingenuidade infantil de todos.
Apesar disso, a nova versão recria o clássico, mas não o tira inteiramente do passado. A época em que Wendy e seus irmãos são buscados por Peter Pan e Tinker Bell, acusados de viverem na fantasia dos contos de fadas, tem o tom sombrio e esfumaçado de uma Londres vitoriana; A Terra do Nunca, em que os sonhos deveriam ser facilmente comparados a seriedade do mundo real, não ganha muitas cores e é refém do discurso pedagógico complexo por onde tenta cruzar. Por este motivo, Peter Pan não é mais o mesmo. As cores encontradas na paleta antes, agora não são sequer coloridas o bastante. O live-action opta pela lucidez e não embarca pela diversão colorida, mas se mantém num convés pesaroso, como aquele do navio pirata comandado por Capitão Gancho.
Entendo perfeitamente que 'Peter Pan & Wendy' não precisa de um roteiro complexo ou uma direção contundente. Uma fábula como essa, por si só, recebe um ‘passe livre’ para transmitir sua mensagem com tranquilidade. Acontece que, apesar de um conceito literário, nesse live-action (e em vários outros), falta a parte mais importante: a alma. E como uma máquina de escrever com defeitos, continuo pontuando algo (como fiz em 'Pinóquio'), que é a falta total de carisma das histórias recentes que as tornam totalmente esquecíveis. Talvez seja o momento histórico em que são lançados ou mesmo a noção de que quanto mais “real” a fantasia pareça visualmente, dada toda a tecnologia empregada nesses projetos, proporcionalmente mais a aproxima do realismo. Realidade e Fantasia se confundem – um conceito que se banaliza e paradoxo difícil de explicar.
Apesar dessa falta de carisma ao qual poderíamos nos apoiar em 'Peter Pan & Wendy', a mensagem é passada a toda uma nova geração imediata e (muitas vezes) aversa à falta de detalhes do filme de 1953. Um filme que pode divertir ou talvez eu que tenha envelhecido e sequer tocado meus pés na Terra do Nunca que me venderam, onde tudo seria possível e sem limites à fantasia.
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