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'O Chamado 4 : Samara Ressurge' : longa japonês aborda um capítulo à parte na prolífera franquia de horror | 2023

NOTA 2.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

A década de 80 nos mostrou o quão lucrativo pode ser o negócio de franquias no cinema. Muito embora tenha começado com 'Star Wars' em 77, apenas alguns anos depois as sequências se provaram um bom negócio. Desde então foram 4 décadas em que a tendência da indústria tem sido a de alcançar esse tipo de sucesso, afinal, quando um filme vira uma espécie de “marca”, existe todo um mercado para além do cinema a ser explorado, desde camisetas, bonés e canecas até colecionáveis que rendem uma fortuna. No terror, os personagens Jason, Chucky e Freddy Krueger são tão facilmente reconhecíveis que até mesmo quem nunca assistiu um só filme sabe quem são. Para o nosso azar, do ponto de vista comercial, uma vez a franquia consolidada, a qualidade parece se tornar uma questão secundária, numa lógica que se convencionou chamar de “caça-níquel”. 

‘Halloween’ (1979) é um ótimo exemplo, com 13 longas no total, dos quais mais da metade são de qualidade duvidosa e nenhum fracassou nas bilheterias. Nessa lógica do vale-tudo a má fé também é uma ferramenta comum, como nos casos de 'Halloween' 3 e o 'Exorcista 3'. Em ambos os casos não se tratava de uma continuação do anterior, se aproveitando, portanto, do apelo que o nome possui. Uma estratégia desonesta que pode frustrar o expectador desavisado que em “O Chamado 4: Samara Ressurge” consegue a proeza de mentir no título e subtítulo, uma vez que não pertence a cronologia do recente “O Chamado 3” (2017), nem traz de volta a personagem Samara tal como a conhecemos na versão americana. Contudo, antes a decepção se limitasse ao título, mas não se engane, a coisa piora... e muito! 

Originalmente lançando como “Sadako DX”, a trama se passa no Japão onde diversas pessoas em todo o país morrem após assistirem um misterioso vídeo. Ayaka Ichijo (Yûki Yagi) é uma estudante extremamente inteligente que após descobrir que sua irmã foi amaldiçoada precisará lutar contra seu ceticismo e achar um meio de salvá-la. 

O enredo segue basicamente a mesma premissa dos anteriores, porém, as poucas novidades inseridas são desenvolvidas com bastante precariedade. Uma delas é o prazo em que a vítima é morta que aqui é reduzido de uma semana para vinte e quatro horas. A ideia é boa e remete ao imediatismo e a velocidade com que as informações se propagam no meio digital, mas, qual o impacto dessa mudança quando a condução narrativa não imprime senso de urgência? Não basta o tempo entre a maldição e a morte ser curta, ela precisa parecer curta. A habilidade de “esculpir o tempo” dita o ritmo e tem como objetivo alcançar determinado sentimento ou sensação, missão essa que “O Chamado 4” nem arranha a superfície. Outra diferença, essa menos significativa, é que a investigação é tratada com certa desconfiança e abre margem para suposições como a de tudo aquilo não ter propriamente uma origem sobrenatural. É uma tentativa que provavelmente funcionaria melhor se a expertise da protagonista fosse algo mostrado pelas ações da mesma e não dito e repetido à exaustão. O fato dela ter 200 de QI é uma muleta que não se sustenta. Mais uma vez, assim como a passagem do tempo, não basta ser, tem que parecer ser. 

Difícil julgar ou deduzir aspectos internos da produção sem que não haja informação o suficiente que embase qualquer afirmativa, entretanto, parece razoável pensar que o baixo investimento e a escalação de profissionais sem muito gabarito mostram confiança do retorno, graças claro, a associação do nome à “marca” que o mito de Sadoko carrega. O filme ocasionalmente vai encontrar seu público e quem sabe, com o tempo, se tornar um clássico “tão ruim que é bom”, porém esse dado pertence ao futuro. Hoje, ele é apenas ruim.








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