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'Guardiões da Galáxia Vol. 3' : James Gunn explora caos íntimo dos heróis em despedida emocionada e explosiva | 2023

NOTA 9.0

Eu amo vocês 

Por Vinícius Martins @cinemarcante

Criou-se nos filmes da Marvel, na maioria dos títulos da era pós-Thanos, um hábito inócuo no desenvolvimento das tramas. Relações de causa e efeito se perdem em casualidades tão vagas e injustificadas que, por vezes, beiram a futilidade. A fórmula ficou gasta, a fonte criativa secou, a piada perdeu sua graça. Tudo indica uma crise criativa dentro do estúdio, mas eis que surge um respiro muito bem-vindo com o nome de James Gunn, um cineasta que renasceu de suas próprias cinzas, como uma fênix emplumada após um escândalo estúpido por causa de uma publicação de Twitter igualmente estúpida feita muitos anos atrás. Gunn, com sua assinatura ímpar (para o bem e para o mal) e seu pulso criativo firme consegue impor, sem sombra de dúvidas, uma das obras mais emotivas de todo o Universo Cinematográfico Marvel com 'Guardiões da Galáxia - Vol. 3', que conclui com louvores sua trilogia dentro do estúdio que quinze anos atrás dava seu primeiro passo com o excelente e inesperado 'Homem de Ferro'.

"Parte da jornada é o fim", já dizia Tony Stark perante a premência da própria morte. Hoje, após o lançamento da conclusão da trilogia que consagrou de vez o nome de James Gunn no meio cinéfilo, percebe-se uma sobriedade que é ao mesmo tempo lúdica e emocionalmente sensível, com uma fragilidade belíssima na tratativa de seus personagens e principalmente na consciência do lugar que ocupa dentro de sua trilogia individual e no todo que é o MCU. Se dez anos atrás você perguntasse a alguém quem eram os Guardiões da Galáxia, muito provavelmente você receberia um confuso "quem?" como resposta. Hoje, em contraponto, é difícil encontrar alguém que não saiba quem são ou que no mínimo nunca tenha visto a cara de seus personagens (em especial o Groot em alguma de suas versões) estampada em camisetas, cartazes e mochilas. 'Guardiões' se tornou um fenômeno pop, e o tratamento especial que Gunn tem com os personagens que tanto ama evidencia, mais uma vez, que quando o produto é feito por um fã apaixonado os demais fãs embarcam na loucura.

O novo 'Guardiões da Galáxia' é um filme, acima de tudo, muito corajoso. Gunn já foi por vezes tido como um realizador subversivo e, de um tempo para cá, acabou perdendo essa veia ao adentrar os universos de super-heróis; contudo, vemos agora um retorno dramático (no melhor dos sentidos) a esse caráter criativo em um filme que foge das obviedades e se esquiva das conclusões fáceis para entregar, com uma euforia latente e contagiante, um espetáculo visual e musical com proporção colossal de duas horas e meia do mais puro entretenimento tenso. Vê-se aqui o dedo do diretor em cada minucioso detalhe da produção, desde a incrível caracterização dos mais variados seres que aparecem em cena e exigem um zelo técnico por parte das maquiagens e indo até a pós-produção com um capricho glorioso com os efeitos visuais. O resultado de todo esse cuidado é visível em cenas tão tecnicamente bonitas que por pouco não tiram o fôlego.

Se a estética do filme já é bela, o roteiro é melhor ainda. A história de Gunn para seus heróis, em especial para Rocket, é a alma condutora de tudo que se vê em tela. Gunn imprime emoção em todas as interações, e uma aura melancólica paira sobre todos em um flerte constante com a ideia da finitude através da iminência da morte. A melancolia está tão presente que chega de certo modo a ser personagem do filme. É como se tudo fosse um vórtice e a equipe estivesse girando e se aproximando cada vez mais do centro, sendo sugada para um abismo de inevitabilidades onde reside o pior desfecho possível. Há, é claro, alguns atalhos e facilitações no roteiro para que não se perca tempo com coisas que não são tão relevantes; o centro de tudo é a emoção, a despedida, a consciência do próprio fim que chega sorrateiramente a cada membro dos Guardiões e se instala neles com um medo que se manifesta de formas diferentes em cada um. E ao público fica a missão de segurar as emoções durante os 150 minutos exibição, minutos esses que já começam com 'Creep', da banda Radiohead, para já desgraçar o psicológico desde o início do filme.

Com muita graça e pirotecnia, o filme se curva para o drama e se converte em lágrimas que tendem a escapar da maioria dos espectadores. E o mais incrível: sem perder a essência e a identidade que tornam os filmes dos Guardiões despirocados do jeito que são, mesmo fazendo da melancolia sua âncora narrativa. É James Gunn criando música onde só há ruído, é a Marvel entregando arte em meio ao próprio caos. Um espetáculo que vale a pena ver na maior tela, com a sala cheia e o coração aberto.





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