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'Tetris': Thriller detetivesco mergulha na trajetória do icônico jogo | 2023

NOTA 8.0

Por Karina Massud @cinemassud 

Se existe algo que me desperta total desinteresse são jogos de qualquer espécie, de tabuleiro, digitais, cartas ou máquinas de  cassinos. No entanto, há um joguinho que me fascinou nos idos dos anos 80 e me fascina ainda hoje: Tetris. Eu faço parte dos 520 milhões de usuários desse game tão simples quanto viciante, de bloquinhos coloridos que vão caindo na tela e precisam ser encaixados para que o jogador ganhe pontos. Depois de sua criação em 1984 pelo russo Alexey Pajitnov, Tetris venceu as barreiras da Guerra Fria EUA x União Soviética e ganhou o mundo graças à persistência e coragem do empreendedor Henk Rogers – história essa que inspirou o longa “Tetris”.

A trama não é exatamente sobre a criação de Tetris, mas sobre sua trajetória inacreditável rumo ao Ocidente num então quadro geopolítico de transição, onde a Perestroika  do presidente Mikhail Gorbachev levava a União Soviética pra abertura comercial e política. Esse é o pano de fundo para os intrincados jogos de espiões que pairaram sobre a conquista da licença do Tetris, aliás, o roteiro do longa é uma aula sobre propriedade intelectual que fascina quem não tem familiaridade com esse tema tão complexo.

O diretor Jon S. Baird transformou uma história burocrática numa narrativa que flui deliciosa, imitando o jogo de console através de uma linguagem de videogames de 8 bits, com “fases” que dividem o filme e pelas quais o espectador vai passando. Um thriller de ação frenética com o protagonista entrando e saindo de países, embaixadas, fugindo de agentes da KGB e passando por interrogatórios tensos. Esses elementos detetivescos são pontuados por um ótimo alívio cômico presente nas chacotas sobre as privações que o regime comunista impunha aos cidadãos.

“Tetris” também nos apresenta um maniqueísmo que acreditava-se existir na época da cortina de ferro e se esmera em potencializar o sentimento anticomunista, mas que hoje sabemos não ser exatamente assim:  a luta do Bem contra o Mal retrata os EUA como o herói capitalista bonzinho que vai salvar a humanidade dos demoníacos comunistas comedores de criancinhas da União Soviética. A trilha sonora oitentista nos mergulha ainda mais no clima, com a música clássica de Tetris (vai me dizer que ela não tocou na sua cabeça?), “The Final Countdown”, “Holding Out for a Hero”“Heart of Glass” em versões em russo e japonês.

Apesar de todos esses predicados, o longa não seria o mesmo sem o talento do ator Taron Egerton como o visionário Henk Rogers - ele é a alma da trama. Um homem que cansou de perder, acreditou que algo simples seria um sucesso estrondoso e, com uma determinação hercúlea arriscou a própria vida e liberdade pra ir atrás desse sonho. Henk poderia facilmente cair na caricatura de um empresário dos anos 80, com seu bigodão, topete de laquê  e terno e pasta baratos; mas não, ele é um herói atemporal e incansável pelo qual torcemos do início ao fim.

“Tetris”, o filme, faz jus a Tetris, o jogo, ambos tem as qualidades imprescindíveis a produções de sucesso, pois são altamente envolventes e divertidos. 









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