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'The Flash' : jornada emocional e fan-services impõem ritmo ao filme do velocista escarlate | 2023

NOTA 7.0

Não reviva o passado 

Por Vinícius Martins @cinemarcante 

A nostalgia tem sido demasiadamente explorada no cinema nos últimos dez anos. Enquanto franquias e sagas foram ressuscitadas através de sequências e reboots, obras mais "originais" encontraram uma zona de conforto bem conveniente na referência que faz reverência a essas e outras obras clássicas - obras essas que ainda são ícones populares e parâmetros de qualidade comparativa. Em 'The Flash', que está aí para rebootar o universo cinematográfico da DC, a nostalgia não somente se faz pelo aceno ao passado e às memórias do público como também pela presença física de um multiverso de possibilidades a serem explorada$, mas isso não esconde os maiores problemas da indústria atualmente: o pecado pelos excessos que levam o público à exaustão para a temática da vez, e a falta de criatividade que faz tudo parecer uma cópia da cópia.


Talvez você esteja se perguntando "mas 'Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa' (2021) não foi excelente? Por que esse aqui não seria?". A resposta para essa indagação está na conexão emocional tanto do filme unitariamente quanto com os objetos nostálgicos a que se submete. O diretor argentino Andy Muschietti, que dirigiu anteriormente para a Warner os dois volumes mais recentes de 'It: a Coisa', imprime aqui um festival de fan-services que em uma primeira olhada são magníficos, mas que parecem meio despropositados e gratuitos quando observa-se o todo da obra - como se, ao invés de colocar as referências em um filme cuja trama já estava construída construísse-se um filme para contextualizar e justificar o uso dessas referências. A jornada de Barry Allen enquanto lida com as capacidades que seus poderes lhe dão é mais intimista e emocional, mas é tão problemática quanto as situações em que se enfia. E apesar de ser mais emocional, o que mais falta é emoção para tratar as nuances que permeiam as camadas de seu protagonista. Não estou falando que faltem cenas emocionantes; estou dizendo que falta liga entre essas cenas para que elas atinjam os espectadores como pensam que atingem. É então que temos um abismo entre a ideia e o resultado final.

O conceito é excelente; já a concepção desse conceito é que é o problema. Algumas soluções criativas são risíveis e alguns atalhos do roteiro tiram justamente o peso de interações chave para que o filme seja comovente como se propõe a ser. Embora o design de produção seja interessante, algumas escolhas deixam o filme com um pé quase todo no vale da estranheza* para facilitar algumas conveniências visuais, e os efeitos são por vezes tão ridículos que pode-se falar com segurança que as deep faces amadoras são melhores do que aquela que o filme apresenta. O filme não é ruim, não me entenda mal; ele só está aquém do evento que poderia ser e não faz justiça ao seu material promocional, que coloca o filme como um épico inesquecível. Vale a pena ver o filme? Vale sim. Não é excelente, mas também está longe de ser horrível. Caramba! O multiverso é explicado com spaguetti! Mas mesmo assim, ele é só um filme medíocre que aspira ser gigante. Tomara que se torne isso com o tempo. Espero que daqui um ano, quando eu rever o filme, pense comigo mesmo que ele merecia uma nota maior. Eu queria gostar mais dele, mas não só de fan-service vive o fã. Ao final, fica a impressão de que o melhor a fazer mesmo é não reviver o passado, como bem recomenda Bruce Wayne.





*O "vale da estranheza" é um ponto onde a realidade simulada não é real o suficiente para ser verdadeira e nem artificial o bastante para ser artisticamente livre, com esboços próprios. Isso causa um efeito de estranhamento e incômodo em quem vê a obra em questão, principalmente por seus traços esteticamente repulsivos.






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