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'Tic-Tac: A Maternidade do Mal' : lançamento Star+ flerta com o terror psicológico, mas se limita ao drama social | 2023

NOTA 5.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

Em 2018 na cidade de Londres, diante de uma plateia lotada, a atriz Natalie Portman e o escritor Yuval Noah Harari realizaram uma interessante troca de ideias.. Harari, autor de ‘Sapiens’, um dos maiores Best Sellers dos últimos anos, em dado momento aborda o assunto mais controverso de seu livro, que consiste na reflexão, sem a ambição de chegar a conclusões, sobre a razão na qual a maioria das espécies, incluindo a nossa, possuem a figura do macho dominante. Portman, que além de artista é graduada em psicologia pela universidade de Harvard, diz ter uma teoria: segundo ela, trata-se da tentativa de controlar os meios de geração de vida. A agenda feminista tem estado cada vez mais presente no cinema e felizmente cada vez mais as mulheres têm tido protagonismo na condução dessas pautas na sétima arte. Em ‘Tic-Tac: A Maternidade do Mal’, Alexis Jacknow assume a direção, e ao que tudo indica a cineasta é adepta da teoria de Portman.

Na trama acompanhamos Ella (Dianna Agron) uma arquiteta cheia de ambições e em plena ascensão profissional. Aos 37 anos, casada e convicta da ideia de não ter filhos, Ella passa a sofrer julgamento da sociedade e até das amigas mais próximas devido à sua escolha. Com o tempo, convencida de que seu relógio biológico está “quebrado”, a jovem procura uma clínica que promete lhe ajudar na busca pela gravidez, além de ajustar seus desejos e hormônios no caminho do que é entendido como “natural”.

A busca da mulher pelo controle de seus próprios corpos talvez seja uma das lutas mais antigas no feminismo e, por mais que ela pareça óbvia, ainda permanece uma batalha sem precedentes. Desde a polêmica do aborto até a decisão de não ter filhos, grupos que se opõem à causa quase sempre repetem o argumento do “anti-natural”, como se o pensamento pré-histórico de que a função primária da mulher seja procriar, permanecesse em vigor.

No longa de Jacknow há um paralelo instigante com outra minoria; os LGBTQIA+. Essa ponte é feita a partir da clínica onde a protagonista busca sua “cura”. No filme o local é fictício, porém os métodos e os ideais propagados parecem muito com os centros que promovem a falaciosa e comprovadamente ineficaz terapia de reorientação sexual. Entretanto, a simplicidade da premissa base derrapa na tentativa de imprimir complexidade por meio de conspirações mirabolantes que enfraquecem consideravelmente a narrativa, tornando o desenrolar desnecessariamente hermético.

Enquanto drama social, o filme tem seu valor vide tudo mencionado até aqui, contudo, a qualidade não se mantém quando inseridos elementos assustadores. A tentativa de flertar com o terror psicológico mais uma vez cria complexidade onde uma abordagem mais direta seria mais condizente, dada a duração de apenas 1h30m. Infelizmente boas intenções não são garantia de boas obras. Embora ‘Tic-Tac: A Maternidade do Mal’ esteja longe de ser um desastre, fica o gostinho amargo de uma oportunidade desperdiçada.







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