'Transformers: O Despertar das Feras' : novo capítulo da franquia expande universo com promessas e referências | 2023
NOTA 7.0
Eu vou andar até o Peru
Por Vinícius Martins @cinemarcante
Tenho em casa um exemplar de um livro chamado 'Grandes Expectativas', escrito no século XIX pelo autor britânico Charles Dickens. É uma obra icônica da literatura inglesa, tendo sido adaptada mais de 20 vezes para teatro, cinema e televisão. É óbvio que não existe nenhuma conexão direta entre essa obra e os filmes de 'Transformers', mas o trocadilho é válido porque quando saí da sessão me senti feliz por ter deixado o livro em casa. Assistir 'O Despertar das Feras' sem 'Grandes Expectativas' foi a melhor coisa que eu poderia ter feito; dei ao filme a oportunidade de me surpreender, ao invés de me colocar na sessão já previamente inclinado a uma decepticon decepção. Uma semelhança improvável entre a obra de Dickens e a franquia dos Autobots reside, ao meu ver, no fato de que em ambos os casos a história foi explorada ao máximo, e não ficarei surpreso de ver um novo filme de qualquer um deles chegando aos cinemas ainda na atual década.
'O Despertar das Feras' é mais um filme onde os Transformers combatem uma ameaça gigantesca com potencial de destruir o nosso planeta inteiro, e o fazem a partir de alguma relíquia aleatória do passado que não era relevante até anteontem - coisa recorrente na franquia. Quando 'O Último Cavaleiro' chegou aos cinemas em 2017, fui generoso em minha nota (um quase 10) pelo calor do espetáculo assistido em IMAX 3D, e reforço o argumento agora de que, apesar de extremamente medianos, os filmes da franquia são pautados e vendidos como um show pirotécnico sem compromissos com qualquer coerência física ou com a própria mitologia interna (uma vez que esses filmes, assim como os da franquia 'X-Men', contradizem e anulam constantemente uns aos outros a cada novo lançamento). Os Transformers ganharam o imaginário coletivo décadas atrás, e desde então os fãs mais assíduos dessa linha de brinquedos da Hasbro almejavam ver no cinema as representações de seus personagens favoritos. Chegou a vez de apresentar o arco dos Maximals, com uma nova variação de vilão com o mesmo objetivo de sempre.
Não há mentira na afirmação de que 'O Despertar das Feras' não tem nada propriamente novo. Tudo parece reciclado ou no mínimo dedicado a acenar referências a outros marcos do cinema, como 'Sociedade dos Poetas Mortos' e alguns filmes de Steven Spielberg, em especial os primeiros. Contudo, isso não impede o filme de ter lá sua graça e um carisma próprio que, apesar de estar milhas de distância de qualquer originalidade, consegue cativar mais do que os filmes estrelados por Mark Wahlberg; o porém é que o resultado final carece de um impacto condizente com o tamanho da ameaça proposta. Não sei se sou eu que cansei de ver mais do mesmo ou se de fato faltou uma mão megalomaníaca para a ação como a de Michael Bay - fato é que faltou o espetáculo, o tchan, o balacobaco característico visto nos cinco filmes principais e no derivado de 2018. A impressão que fica é que o filme quer ser grande mas reluta em se assumir como tal.
Com um gancho que vai animar os fãs da Hasbro e uma promessa de construção de universo mais coesa a partir deste aqui, os filmes 'Transformers' parecem estar querendo se aprumar e se reinventar atendendo um apelo antigo que há tempos se tornou um boato para a franquia. Se vão bagunçar ainda mais o próprio universo ou se vão conseguir consertar tudo, isso só o tempo dirá. É divertido? É. Eu sou fã? Sou. Mas sejamos honestos, os Transformers estão perdendo casa vez mais fôlego e espaço no cinema. Para melhor apreciar esse caos dos próximos filmes, acredito que vou continuar deixando Grandes Expectativas em casa.
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