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'Disco Boy: Choque Entre Mundos' : novo projeto estrelado por Franz Rogowski expõe fronteiras que vão além dos muros | 2023

NOTA 8.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica   


Toda obra dialoga com seu tempo. Mesmo aquelas que retratam outras épocas o fazem com um olhar contemporâneo e, portanto, esbarram em temáticas que estão na ordem do dia. Porém, existem problemáticas tão constantes na história que se colocadas em qualquer momento da nossa trajetória, muito pouco mudaria. ‘Disco Boy: Choque Entre Mundos’ segue duas linhas narrativas a princípio distintas. A primeira é sobre o jovem bielorrusso Aleksei (Franz Rogowski), que encontra refúgio na Legião Estrangeira, ramo do serviço militar francês que se destaca por ser a única aberta a recrutas de outros países, em sua maioria refugiados. A segunda segue outro jovem rapaz, Jomo (Morr Ndiaye), um líder revolucionário que luta contra a exploração de grandes petrolíferas atuantes nas margens do Rio Níger. Após o sequestro de alguns executivos, um pequeno grupo é enviado para resgatá-los, missão essa que faz os caminhos de Aleksei e Jomo se cruzarem, causando consequências muito distintas para cada um, mas igualmente catárticas para ambos.  

Imperialismo, luta por independência, revolução, conflitos e contradições culturais. Poderíamos estar falando de qualquer momento dos últimos trezentos anos, contudo o filme retrata a realidade atual nua e crua. O longa conta com duas presenças de peso, a começar por Franz Rogowski, ator já respeitado e conhecido do cenário europeu, além do novato Morr Ndiaye, que com considerável menos tempo de tela, impressiona com sua imponência e principalmente com o olhar. O ritmo tem bastante fluidez e não prolonga em demasia os momentos de silêncio, muito embora Aleksei seja um homem de poucas palavras - a escassez dos diálogos é bem compensada pela performance do ator. A título de exemplo, quando há a perda de um amigo, não vemos lágrimas nem lamentações. Seu rosto basta para entendermos a dor. É sutil, e essa sutileza perdura por toda a rodagem, incluindo nas sequências de Jomo, o que pode parecer destoante uma vez que se trata de um homem de força física evidente e comandante de uma tropa pujante e fortemente armada. Todavia a imponência se mostra em situações como um pronunciamento diante da câmera ou em uma dança típica de sua tribo. Seu poder está contido muito mais na força de suas ideias do que no alcance de suas armas. 

Ao longo da narrativa a atmosfera vai ficando menos solar e mais claustrofóbica. Com menos luz e mais sombras percebemos um reflexo do conflito interior de Aleksei, pressionado por ele mesmo a tomar uma decisão em um mundo que aparenta não ter solução para sua dor.  

Lançado no festival de Berlim deste ano, o título do projeto é curioso. Em um dado momento temos uma pista, quando o irmão de Jomo pergunta se ele já pensou no que poderia ser caso tivesse nascido do outro lado do rio. Em resposta, sem titubear responde: “eu seria um Disco Boy”. Dentre muitas coisas o filme talvez seja sobre sonhar com a possibilidade de escolha, mesmo que, assim como ocorre com Aleksei, essa suposta escolha venha acompanhada de muitas contradições. Contradições essas que tornam qualquer alternativa uma liberdade ilusória. Mundos muito diferentes em que a um não oferece saída, e outro dispõe de várias, mas que no fim todas desaguam no mesmo rio.  







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