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'Palavras nas Paredes do Banheiro' : drama juvenil emociona e inspira ao tratar de problemas adultos | 2020

NOTA 8.0

Por Karina Massud @cinemassud 


Logo na primeira cena de “Palavras nas Paredes do Banheiro” já conhecemos o drama de Adam: ele não tem um simples problema na retina, ele tem esquizofrenia, e por isso enfrenta delírios frequentes. Esquizofrenia é um transtorno mental que causa alucinações, o paciente ouve vozes e enxerga pessoas que não existem, perdendo o contato com a realidade e a capacidade de pensar, sentir e se comportar com clareza. Esse distúrbio atinge cerca de 21 milhões de pessoas no mundo todo segundo a OMS e exige tratamento pelo resto da vida, com medicação, terapia e muita paciência.

Adam é um adolescente estudante do 2º grau que tem um dom inato para gastronomia; ele é brilhante na cozinha e conhece a fundo sabores, técnicas e instrumentos da culinária. Só que o seu futuro e sonho de ter um restaurante são ameaçados pela doença que o impede de ter uma vida normal.

A esquizofrenia já foi tratada em grandes tramas como “Uma Mente Brilhante” e “O Solista” sob o ponto de vista do doente, uma pessoa frágil mas brilhante e apta para ter uma vida saudável. No entanto, um garoto esquizofrênico nunca foi retratado antes, daí a importância de “Palavras nas Paredes do Banheiro”, que trata desse drama com uma competência e sensibilidade raras.

O roteiro inspirado no best-seller de Julia Walton explora, além dos sintomas e  consequências da esquizofrenia, mostra também como a doença afeta todos que convivem com o paciente. O curioso é que, apesar dos problemas abordados serem seríssimos, “Palavras nas Paredes do Banheiro” tem uma atmosfera leve e otimista, e mesmo nos momentos mais tensos  a certeza de que tudo ficará bem  paira no ar.  O diretor Thor Freudenthal (de “Diário de um Banana” e “Percy Jackson”) inseriu toques cômicos associados aos delírios que são muito criativos, como o trio de amigos invisíveis, ora nefastos, ora divertidos; ou a cena da freira em chamas, aliviando o peso de alguns momentos. 

Há na trama uma quebra da quarta parede nas conversas de Adam com o espectador, que o ouve como numa sessão de terapia. Elas nos levam ao lado sombrio da sua mente, expondo todo o preconceito sofrido por esses pacientes: uma doença mental é  invisível e ainda incompreendida pela maioria, e por isso ignorada; diferente de um câncer, onde o doente recebe toda a solidariedade e carinho das pessoas ao redor. 

O longa tem atuações excelentes de todo o elenco. Charlie Plummer mergulha fundo no drama do protagonista Adam, sofrendo com medo e vergonha, mas também sorrindo nos poucos momentos de alívio e alegria diante de uma possível cura.  Molly Parker é a mãe doce e dedicada, que vive em aflição em busca de um tratamento eficaz pro filho. Taylor Russell é Maya, a aluna acima da média que também vive seus dramas e que se torna tutora e crush de Adam, ambos guardando seus segredos um do outro. E por fim o veterano Andy Garcia, que é o padre que tranquiliza o jovem em ótimos diálogos, ensinando-o que a doença não o define. 

“Palavras nas Paredes do Banheiro” é surpreendente e, apesar ter sido lançado em 2020, só após entrar pro catálogo da Netflix caiu nas graças do grande público. É com muita alegria que escrevo esse texto, pois trata-se de um filme belo e esclarecedor, e que merece ser visto com mente e coração abertos.  








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