'Missão Impossível 7 - Acerto de Contas Parte 1' : Tom Cruise reafirma sua marca como patrono do cinema espetáculo contemporâneo | 2023
NOTA 10
O mundo está mudando e a verdade está desaparecendo
Por Vinícius Martins @cinemarcante
Quando 'Missão: Impossível - Efeito Fallout' estreou, lá no longínquo ano de 2018 (que parece anteontem e ao mesmo tempo uma outra vida), frisei o fato de ele ser o primeiro dentre os seis lançados até então com uma aura de sequência. Os anteriores, apesar de apresentarem alguns pontos de conexão entre si, continham tramas episódicas e tinham uma rotatividade saudável de diretores, que sempre apresentavam sua visão sobre o mundo caótico que Ethan Hunt (Tom Cruise) lutava para manter de pé. Com o retorno do diretor do quinto filme, Christopher McQuarrie, o sexto e este sétimo capítulo - chamado 'Acerto de Contas Parte 1' - formam uma unidade coerente que entrelaça todos os filmes em uma teia de eventos onde as ameaças crescem a cada nova "fase" conquistada; e a ameaça da vez faz muita justiça ao impossível que a franquia carrega no título.
O planejamento coreográfico de cada cena, desde a cinematografia até a pós-produção, evidencia um capricho que só se vê em filmes onde a equipe inteira abraça o projeto e se empenha para entregar o melhor resultado. Se em 2022 Tom Cruise protagonizou um filme-evento inesperado (o bilionário e excelente 'Top Gun: Maverick'), agora ele entrega um novo espetáculo tão bom quanto, com o mesmo nível de qualidade e um refinamento que está constantemente atrelado ao nome do astro sessentão. A produção se arrisca ao optar pelo uso do plano holandês em várias tomadas, mas ao fazê-lo com consciência acaba empregando a dose exata de tensão e ansiedade que é demandado - em conjunto, é claro, com a trilha sempre precisa de Lorne Balfe. Tudo é tecnicamente excelente, resultando no filme live-action que mais se aproxima do impecável em seus quesitos técnicos. Contudo, a ação sozinha não garante o brilho da obra; e a melhor coisa que se vê dentre o banho de excelência que é 'Acerto de Contas: Parte 1' é a sua trama.
Dialogando com a grande questão do nosso tempo, o roteiro aborda a temática da inteligência artificial como quem quer jogar lenha na fogueira - e com isso provoca seu público (e também a própria indústria, que enfrenta uma greve de roteiristas justamente por, entre outras demandas, o uso do recurso da IA na criação de conteúdo) para uma reflexão sobre os monstros que criamos na expectativa de controlá-los mas que aos quais acabamos subjugados - além de conspirações governamentais e mentiras que homens gananciosos insistem em manter em nome do poder; tudo isso com sequências eletrizantes e brilhantemente conduzidas, que tornam este o melhor filme de ação do ano até agora. A franquia 'Missão Impossível' continua, de fato, a melhor da atualidade em seu gênero - e Tom Cruise se confirma, mais uma vez, como o ícone do cinema enquanto experiência a ser apreciada como o grande espetáculo que é.
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