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'Que Horas eu Te Pego?' : conflito geracional vira besteirol divertido estrelado por Jennifer Lawrence | 2023

NOTA 8.0

Por Rogério Machado

Começo esse texto com uma pergunta: o que houve com os besteiróis? Os anos 80 bem dizer nos apresentaram ao gênero com filmes como 'Corra Que a Polícia Vem Aí' e 'Porky´s', e ambos inclusive se tornaram franquias. Os anos 90 e os anos 2000 se tornaram seleiros desse modus operandi de produzir comédias. A lista é grande e ostenta títulos que se tornaram verdadeiras febres como 'Quem Vai Ficar com Mary?', 'As Branquelas' e 'O Virgem de Quarenta Anos'. De uns anos pra cá, com a ascensão do discurso do politicamente correto ficou mais difícil abordar alguns assuntos sem parecer ofensivo, mas 'Que Horas eu Te Pego?', que chegou recentemente aos cinemas,  mostra que é possível usar a roupagem do besteirol, ser inteligente e ainda provocar debates. 

No longa vamos conhecer Maddie (Jennifer Lawrence), uma mulher impulsiva que não se liga a ninguém e tem o costume de sempre tomar as atitudes mais equivocadas. Quando, afundada em contas pra pagar e  percebendo que pode perder a sua casa de infância, onde cresceu e viveu por muito tempo, ela decide arranjar um emprego. O emprego não é tão simples como parece e na verdade consiste em atender um pedido desesperado de dois pais, Allison (Laura Benanti) e Laird (Matthew Broderick) em favor de  seu filho de dezenove anos. O anúncio descreve o trabalho que ela terá de fazer: "namorar" Percy (Andrew Barth Feldman)  um jovem rapaz tímido e muito introvertido, antes que ele saia definitivamente de casa para ir para a faculdade, em Princetown.

A direção de  Gene Stupnitsky (de 'Bons Meninos' - 2019) aposta no conflito geracional e desenvolve ao mesmo tempo uma comédia romântica disruptiva, onde pulveriza assuntos diversos com humor rasgado, apoiado no conhecido carisma de JLaw. O mesmo podemos dizer de Andrew Barth Feldman, praticamente um estreante, o jovem ator alcança êxito na disputa pelo protagonismo e junto com a veterana apresenta cenas hilárias. O resultado é uma química incrível, que funciona tanto nas sequências cômicas como também  nas cenas doces e que exigem (se é que posso descrever assim) um tanto mais de empenho na dramaticidade.  

Ele um garoto sensível, superprotegido pelos pais e que não tem amigos. Ela uma mulher experimentada, desejada, mas que guarda traumas e por isso desenvolveu  um bloqueio natural contra qualquer aproximação mais amistosa. Mesmo no meio de tanta risada  Stupnitsky provoca boas reflexões sobre o poder que exercemos em nós mesmos ou mesmo sobre as expectativas alheias a despeito da condução das nossas próprias vidas. O corpo empoderado dessa atriz que amadureceu nas telas - estrelando de aventuras juvenis até dramas existencialistas - tem liberdade suficiente  para ousar, até porque JLaw está num estágio em que não tem mais que provar nada pra ninguém e colhe os frutos que só os anos de carreira trazem. 

'Que Horas eu Te Pego?'  trouxe de volta o gostinho do bom besteirol e com o plus de ao mesmo tempo ser politicamente correto (será que dá?). Em linhas gerais o longa de  Stupnitsky está inserido em nosso tempo, consegue ser ousado sem ser ofensivo. Bingo!  






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