'Sobrenatural: A Porta Vermelha': quinto capítulo da franquia se despede retornando às origens | 2023
NOTA 5.0
Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica
Na ocasião do lançamento de “Sobrenatural: Capítulo 1”, em 2010, James Wan não era exatamente um nome de visibilidade na indústria, apesar de já possuir certo respeito dada a repercussão de “Jogos Mortais”, que não só surpreendeu a crítica e o público, especialmente nos primeiros filmes, mas também se consolidou como uma das franquias de maior lucratividade na história do terror. Em “Sobrenatural”, não foi diferente - orçamento baixíssimo, cerca de 1,5 milhões e retorno na casa dos 100 milhões - contudo o êxito comercial foi apenas um detalhe, pois ali começava, em termos de forma e estilo, um padrão que o acompanharia em toda sua carreira durante aquela década, a maioria aplicadas em “Invocação do Mal”, seu projeto mais ambicioso até então e cujo sucesso abriu as portas das grandes produções para o jovem prodígio.
Nesse quinto e último capítulo, a BlumHouse, produtora conhecida e reconhecida pelos filmes de horror de baixo custo, aposta mais uma vez no potencial de retorno, estratégia essa acertada uma vez que logo no primeiro fim de semana o longa arrecadou 64 milhões tendo investido apenas 16 milhões. Entretanto, infelizmente, outra tendência que acompanha essa sequência é a queda brusca no padrão de qualidade. Desde o afastamento de James Wan no segundo capítulo, o que se vê são fórmulas desgastadas e uma repetição que alcança, na melhor das hipóteses, um resultado razoável, e nessa nova e última entrada, a queda foi ainda maior.
Na trama, voltamos a acompanhar a família Lambert, 9 anos após os eventos do capítulo 2. Divorciado e afastado da família, Josh (Patrick Wilson) decide acompanhar seu filho Dalton (Ty Simpkins) até a universidade na tentativa de se reconectarem. Em meio a conflitos e traumas reprimidos do passado, um antigo espírito volta a assombrá-los, obrigando a dupla a se unir para achar respostas e uma saída para aquele pesadelo.
A direção ficou por conta de Patrick Wilson, ator protagonista dos dois primeiros, mas que retorna como mero coadjuvante, entregando o protagonismo para o novato Ty Simpkins, e é aí que os problemas começam. Por mais irregulares que sejam as sequências, elas sempre tinham figuras fortes no núcleo central. O próprio Patrick Wilson foi destaque nos dois primeiros e a veterana Lin Shaye brilhou sozinha nos regulares terceiro e quarto capítulos. Simpkins tinha um peso enorme nas costas, responsabilidade essa que ele infelizmente não conseguiu sustentar. O projeto exigia um nível de expressividade muito maior do que ele é capaz. Junte isso a qualidade duvidosa dos diálogos, conflitos geracionais entre pai e filho limitados a clichês e temos um autêntico filme com selo “Horror de Shopping Center” de qualidade.
Na direção Patrick Wilson tenta emular movimentos de câmera a la James Wan, porém esse estilo é baseado em um melhor aproveitamento geográfico do local. As residências onde acontecem os eventos de “Invocação do Mal”, por exemplo, são um personagem a parte. Basta alguns minutos para estarmos familiarizados com os espaços e temermos cada canto. O mesmo não acontece aqui, já que da universidade vemos apenas o dormitório de Dalton e uma casa próxima onde ocorrem festas de fraternidade. Há um sentimento claustrofóbico proveniente dos corredores estreitos e cômodos escuros, todavia o ambiente parece inabitado e sem vida. Como criar uma atmosfera de risco quando, num local onde deveria haver pessoas associadas a esses riscos, não há nada? Para alcançar o medo, sangue e sombras não são o bastante.
Outros problemas são mais comuns, como os sustos telegrafados e um menor aproveitamento da ideia de projeção astral, um diferencial da franquia. Se antes esse era um evento que exigia preparação e suscitava perigo, Dalton o utiliza como quem vai num parque de diversões.
Difícil acreditar que uma produtora vai renunciar a uma propriedade intelectual tão lucrativa. Talvez haja espaço para um eventual Spin-off, mas se tratando desse arco específico, foi bom enquanto durou. Existem portas que nem deviam ser abertas e outras que, definitivamente, precisam ser fechadas.
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