“O Espaço Infinito”: uma rara incursão de nosso cinema ao desafiador universo dos transtornos mentais | 2023
NOTA 4.0
Por Alan Ferreira @depoisdaquelefilme
Enquanto não faltam (nos mais diferentes gêneros) títulos que abordem transtornos mentais em Hollywood, eles ainda formam um universo pouco explorado pelo cinema brasileiro, sobretudo quando se pensa no âmbito da ficção. Nesse sistema de poucos corpos celestes, surge “O Espaço Infinito”, longa escrito e dirigido por Leo Bello que tenta enveredar pelo desafiador processo de degradação de uma mente perturbada ao contar a história de Nina, uma estudante de astrofísica que, após a internação numa clínica psiquiátrica, mergulha gradativamente numa espiral rumo ao seu subconsciente.
A partir de uma proposta mais sensorial, a direção foca no turbilhão de memórias/delírios (como distinguir?) da protagonista, fazendo com que percebamos o avançar de sua desconexão com a realidade. Já no plano de abertura, vemos Nina, numa das imagens mais belas da obra, andando nua por uma caverna segurando carinhosamente uma estrela. Tal representação metafórica dá o tom de todo um percurso obsessivo rumo a uma busca impossível que, inclusive, pode estar relacionada às suas vivências com o pai. Além disso, o roteiro escrito pelo próprio cineasta não se furta de mencionar, mas de modo bem raso, como a família da personagem interpretada por Gabrielle Lopes vai sendo afetada durante as etapas do tratamento.
No entanto, embora possua um ou outro plano que faça nossos olhos brilharem como a estrela de estimação da paciente, “O Espaço Infinito” se limita a trafegar por um constante ir e vir no que se estabelece como “dentro” e “fora” da cabeça de Nina. Diferente do que fez, por exemplo, o brilhante “Meu Pai”, a narrativa pouco avança nas razões pelas quais aquela mulher sofre, ou nem mesmo se preocupa em expandir nosso contato com sua vida familiar, e tampouco possui atrativos estéticos que deem conta de explorar com maior criatividade os devaneios causados pelo transtorno mental, oferecendo apenas um sem-número de cenas de Nina se despindo ou com o olhar perdido.
“O Espaço Infinito” acaba por oferecer um brilho parco dentro da viagem que propõe. Limitando-se apenas no trilhar pela vastidão escura de uma psique em colapso, estratégia que praticamente evita um “antes” ou “depois”, o projeto, raro em sua temática, desperdiça a oportunidade de investigar outras possibilidades na vida de sua figura central. Se praticamente tudo ali é tormento, faltam elementos nos quais o espectador possa se agarrar, sobrando, apenas, o vazio.
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