'Sem Deixar Rastros': thriller político polonês reacende um caso real para falar sobre truculência militar | 2023
NOTA 7.0
Por Alan Ferreira @depoisdaquelefilme
A luta de cidadãos comuns frente a injustiças provocadas por um Estado opressor moveu diversos thrillers de cunho político ao longo das últimas décadas. Tendo como nome maior o grego Costa-Gavras, a tradição europeia nessa seara narrativa possui uma riqueza de títulos e realizadores que tornam o subgênero oportunas plataformas para a reflexão acerca dos excessos cometidos por regimes em que a dialética dá lugar à truculência.
Da sequência que retrata a ríspida abordagem policial até o seu desenrolar extremo na delegacia, a direção é eficaz no estabelecimento de diferentes atmosferas que propiciam uma impactante ruptura entre a tranquilidade vivida e a ação desastrosa, dando-nos a sensação de que algo assim, num regime de exceção, pode acontecer com qualquer um a qualquer hora. Além disso, o roteiro de Kaja Krawczyk-Wnuk faz questão de expor todos os esforços da ala militar daquele país (alguns patéticos e revoltantes na mesma medida) para se eximir da responsabilidade, tanto com a velha estratégia de desabonar a versão do acusador – que também entra em rota de colisão com os pais – quanto na criação de novos culpados, justamente quando os homens do poder, geralmente ostentando rostos inexpressivos, mostram como difamar, ameaçar e torturar compõem suas maiores especialidades.
Centrado no embate de mais um Davi impetuoso contra um quase onipresente Golias fardado, cuja tensão perpassa desde o reconhecimento dos agressores até um aparentemente simples jantar em família, “Sem Deixar Rastros” reacende um dos muitos casos com dinâmica semelhante a caírem no esquecimento (este, inclusive, já prescreveu) e funciona também como um alerta às populações de países que, em pleno século XXI, mantêm estruturas pautadas no militarismo ostensivo e pouco afeito a contestações.
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