Adsense Cabeçalho

'A Freira' : terror faz de sua previsibilidade o viés perfeito para agregar tons de aventura à franquia | 2023

NOTA 8.0

Tudo bem ter medo

Por Vinícius Martins @cinemarcante 


Quem acompanha o universo de 'Invocação do Mal' certamente conhece o desfecho que Valak, o famoso demônio travestido de freira, ganha no segundo filme titular da franquia. De igual maneira, quem viu o primeiro 'A Freira', em 2018, conhece também a conexão estabelecida entre a conclusão tensa envolvendo Valak, Irmã Irene e Maurice (popularmente chamado de O Francês) com o início do primeiro filme da franquia, dirigido por James Wan em 2013. Com isso, surge inevitavelmente a indagação quanto a necessidade de um segundo filme solo da freira demoníaca, já que fica óbvio que qualquer tentativa de dar cabo da entidade será fracassada e o indivíduo ao qual ela possuiu continuará a abrigar o demônio dentro de si. Contudo, contrariando as expectativas, o novo derivado sobre o capiroto que o casal Warren enfrenta em 'Invocação do Mal 2'(2016) se faz o melhor dos derivados desse universo até o momento, agregando um caráter aventuresco à la 'O Código Da Vinci' (2006) sem perder sua identidade de horror.

'A Freira 2', assim como o alemão 'Nada de Novo no Front' (2022), não traz nenhuma novidade ao próprio gênero e nem é inventivo o suficiente para se tornar uma referência tão memorável. Contudo, as maiores qualidades de ambos estão na forma como são executados. Existe nos dois um viés contemplativo da finitude; em um há o discurso antiguerra que critica a normalização da crueldade, no outro uma melancolia sobre as falsas normalidades da vida que culminam em uma crueldade escondida. Além desse traço mais humano inclinado à compaixão, o que faz 'A Freira 2' ser um ótimo filme é o refinamento estético e pudorado que os realizadores assumem. O diretor Michael Chaves (que dirigiu também 'A Maldição da Chorona' e 'Invocação do Mal 3' em 2019 e 2021) entrega nesse novo filme o seu melhor trabalho na saga, mantendo sua veia inventiva que assume riscos para tirar a obviedade dos filmes e arrancá-los de suas zonas de conforto. Com isso, mesmo já se sabendo antecipadamente o desfecho da trama (que o roteiro tenta subverter criando uma possível contradição a ser remediada em um próximo filme), deve-se observar que a jornada já se vale para justificar a existência do filme.

Acrescentando elementos e personagens que dinamizam as abordagens já conhecidas, o novo capítulo retorna ao terror contemplativo e tenso do segundo 'Invocação' com uma execução técnica belíssima, principalmente em fotografia e efeitos. Indiscutivelmente melhor do que o primeiro filme solo, 'A Freira 2' é um curioso caso de renovação em uma franquia que já há algum tempo apresentava sinais de estar gasta. Mesmo sendo um "capítulo do meio" e não resolver muita coisa sobre a entidade titular, o novo filme se faz surpreendente e emocionante sem cair numa pieguice de diálogos cafonas ou gratuitos - e sim, ele retoma o temor pela Freira e enriquece didaticamente a mitologia do universo ao qual pertence.






Nenhum comentário