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'Um Pouco de Mim, Um Pouco de Nós' : documentário sensível reflete e alerta sobre os horrores do holocausto | 2023

NOTA 7.5

Por Karina Massud @cinemassud 


Miriam ainda era uma garotinha quando teve que fugir com sua família da cidade invadida pelos nazistas e se esconder na floresta. À noite, ela saía furtivamente de lá e ia pras cidadezinhas próximas pedir esmola ou qualquer alimento que os ajudasse a não morrer de fome; até que um dia eles foram descobertos pelos nazistas e enviados pra um campo de concentração, onde sofreram as mais inimagináveis atrocidades que os oficiais cometiam contra os judeus. Esse  e outros relatos igualmente tristes e chocantes são retratados no documentário “Um Pouco de Mim, Um Pouco de Nós”.

Para produzir o longa, o diretor André Bushatsky se inspirou na história dos seus próprios avós refugiados de guerra, e na de outros judeus sobreviventes do holocausto que vieram pro Brasil reconstruir a vida. A narrativa é focada em depoimentos poderosos, sem imagens de arquivo mas com a edição e montagem ótimas, intercalando as entrevistas com os sobreviventes com inserções de convidados e do próprio diretor.  Conhecemos as trajetórias de Sarah Lewin, Miriam Nekrycz, Alice Farkas, Rafael Teitelbaum, Joshua Strul, Andor/André Stern (o único brasileiro sobrevivente do holocausto, falecido em 2022), Daniel Roth, Jan Farsky e Zeev (Waldemar) Wolf Litwak.

Toda e qualquer história de resiliência e esperança sobre os sobreviventes dos campos de concentração causa impacto, inspira e emociona profundamente. Nossos protagonistas são pessoas de fibra, inquebrantáveis, mesmo com lágrimas nos olhos e revivendo todo o suplício como se fosse hoje, eles não se esquivam de relatá-lo pra câmera. Pessoas que passaram fome e frio extremos, foram acometidas por doenças, perderam todos os entes queridos,  e  muitas foram submetidas a experiências científicas bizarras  - tudo porque a filosofia nazista  considerava os judeus seres “imundos”, uma raça inferior que precisava ser exterminada, não sem antes terem seus bens mais valiosos, joias e obras de arte, devidamente saqueados. 

Mas a vontade de viver foi maior que tudo: que a dor física, que o luto e que a humilhação. Passados mais de 70 anos depois da Segunda Guerra Mundial, esses sobreviventes estão aqui para nos lembrar o quanto é bom viver, e que as pedras do caminho servem de alicerce pra uma vida sólida e feliz.

O longa traz ainda entrevistas com os jornalistas Pedro Bial e Caio Blinder, com o filósofo Mário Sérgio Cortella e com a economista Claudia Costin, que ponderam sobre a ascensão da doutrina nazista a partir dos anos 30 e o assustador crescimento dessa extrema direita na atualidade.

O diretor André Bushatsky também assina o roteiro e divide a narrativa em três partes: a primeira mostra o contexto histórico que levou ao Holocausto e a posição da Alemanha perante as atrocidades; a segunda traz as histórias dos sobreviventes que vieram pro Brasil recomeçar; e por fim as questões atuais da xenofobia e governos de extrema direita ressurgindo com força total. Estaria a História se repetindo? A humanidade não aprendeu nada com os seus erros?

É impossível ficar indiferente diante desse documentário, e diante de tantas vidas inspiradoras. Tais histórias necessárias são um soco no estômago e levam dias pra serem digeridas e, depois, jamais apagadas de nossas memórias. Esse período sombrio da humanidade deve sempre ser lembrado com ênfase para que jamais se repita, e “Um Pouco de Mim, Um Pouco de Nós” é uma obra que cumpre esse papel com êxito. 





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