'Toc Toc Toc: Ecos do Além' : com grande atuação de Woody Norman, longa flerta com horror real e sobrenatural | 2023
NOTA 6.0
Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica
Infância e terror parecem antagônicos à primeira vista, porém, quando analisados de perto, são mais próximos do que se imagina. Obras que marcaram gerações como “A Aldeia dos Amaldiçoados” (1960), “O Exorcista” (1973), “A Profecia” (1976), “O Iluminado” (1980) e “Poltergeist” (1982) são alguns exemplos de longas que no texto ou subtexto apresentam problemáticas típicas dos primeiros anos de vida, período mágico para a maioria de nós, contudo também potencialmente traumático. “Toc Toc Toc: Ecos do Além” segue essa linha de argumentação e se faz valer de todos os clichês possíveis, do melhor até o pior deles.
Na trama acompanhamos Peter (Woody Norman), uma criança melancólica que na solidão de seu quarto começa a ouvir uma estranha voz. O jovem alerta seus pais, que apesar de alarmados, o acusam de estar imaginando coisas. Sem saber dos perigos que aquela inexplicável manifestação guarda, Peter começa a dar atenção ao que o ser misterioso tem a dizer, trazendo à tona segredos terríveis sobre o passado da família.
Woody Norman é um ator em ascensão. Apesar da pouca idade ele já vem se destacando em produções relevantes, como no último ano quando contracenou com ninguém menos que Joaquim Phoenix no excelente “Sempre em Frente” (2022). O jovem não se intimidou com a presença do astro e entregou uma performance que lhe rendeu indicação ao BAFTA, o “Oscar” britânico. Este ano faz sua estreia como protagonista em um gênero completamente diferente, porém, mesmo em situações tão opostas, o talento é o mesmo e é ele que salva “Toc Toc Toc: Ecos do Além” da mediocridade.
Embora a tradicional estrutura em três atos esteja mantida, podemos dividir o longa em dois: basicamente o separando entre o antes e o depois da “grande” revelação. Nesse sentido, as diferenças são tão díspares que essa transição parece promover uma queda livre. A primeira parte é envolta em mistério e o uso dos clichês são bem conhecidos: o menino introvertido que sofre bullying na escola, pais superprotetores, uma casa que esconde segredos, a professora preocupada que busca ajudá-lo como pode. Parece batido, e até certo ponto é, mas ao menos nessa primeira metade o filme mais acerta do que erra.
O elenco varia de ótimo a razoável. Além do já citado Woody Norman, outra boa escolha foi a do excelente Antony Starr, mais conhecido pelo papel de Capitão Pátria na série “The Boys”. Aqui eles reaproveitam muito da persona que o ator desenvolveu e de maneira mais rápida conseguem gerar toda uma aura de desconfiança em torno da figura paterna. Lizzy Caplan vive uma mãe sem muitas nuances, mas não compromete o desenvolvimento. Já Cleópatra Coleman é o elo mais fraco da corrente, contudo é ela que de alguma forma representa nosso olhar desconfiado e distanciado. A ambientação também é destaque. Com quase todas as cenas acontecendo dentro de casa, o local oferece atmosfera bastante condizente com a proposta. Os cômodos são em geral mal iluminados e os poucos feixes de luz, provenientes de lâmpadas ou das janelas, guiam nosso olhar para pontos de atenção bem específicos, plantando pistas e gerando tensão. Não há qualquer brinquedo ou objeto de entretenimento infantil, o que diz muito da personalidade dos moradores e as razões do desamparo de Peter.
Todavia, em um dado momento o filme decide renunciar ao mistério, e ao abandonar o fator surpresa quase nada sobra. Para piorar, esse ponto de virada acontece muito antes do fim, deixando quase a metade da trama nas mãos de um desenrolar desinteressante. Esse desinteresse é subjetivo, porém é inegável que a ambiguidade com que o longa vinha trabalhando, quando deixada de lado, teria que seguir o caminho escolhido de modo a abraçar essa decisão. Não é o que acontece. Uma direção é tomada, as revelações são postas na mesa, mas a produção mantém um pé do outro lado do muro. O desfecho entrega toda a parte ruim dos clichês: “jump-scare’s” avulsos, efeitos visuais péssimos e pouquíssimos efeitos práticos. Por fim, fica a sensação de um final amargo, o que piora quando olhamos para trás e lá havia um início tão promissor.
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