'Ângela' : Isis Valverde é destaque no longa inspirado em tragédia com socialite mineira | 2023
NOTA 7.0
Por Rogério Machado
Muito tem se falado e muitas são as notícias sobre feminicídio, que crescem absurdamente a cada dia no Brasil e no mundo. O neologismo surgiu para nominar os assassinatos de mulheres cometidos em razão do gênero. No Brasil, a Lei do Feminicídio só entrou em vigor em 2015 e o colocou na lista de crimes hediondos, daqueles que têm penas mais altas. 'Ângela', que chegou na última quinta aos cinemas, resgata esse assassinato terrível que ganhou a mídia há mais de quarenta anos, que acredito tenha sido o primeiro feminicídio a ganhar tamanha repercussão no Brasil.
'Ângela' é um recorte da vida e da morte da socialite mineira Ângela Diniz, que ficou conhecida após seu assassinato que chocou o país. Na trama, Ângela (Isis Valverde) acaba de sair de um divórcio no qual teve que abrir mão dos filhos, e quando conhece Raul (Gabriel Braga Nunes) ela acredita ter encontrado alguém que ama seu espírito livre tanto quanto ela. A atração avassaladora faz o casal largar tudo e viver o sonho de reconstruir suas vidas bem longe de tudo, numa praia em Búzios, mas a relação declina rapidamente para o abuso e violência, terminando em um dos crimes que marcaram o país.
Com o sucesso do Podcast Praia dos Ossos da Radio Novelo, coube a Conspiração Filmes comprar os direitos e chamar Hugo Prata ('Elis' -2015) para dirigir. Contudo, diferente do que faz o podcast, o longa escolhe dramatizar o romance de Ângela e Raul (mais conhecido como Doca Street) e explorar a tragédia pela tragédia, que faz com que a obra perca a oportunidade de trazer com ela toda a força de um debate de tamanha altitude. Se por um lado a escolha de terminar a trama com o brutal assassinato represente um impacto momentâneo e que faz com que pensemos muito sobre tudo ao longo dos créditos, por outro tem-se a sensação de uma narrativa que fica na metade de seu potencial.
Muito embora os aspectos ressaltados sejam relevantes, há que se considerar que, felizmente, por termos um tema que não fica preso em uma linha temporal, revisitar essa história através do filme de Hugo Prata em tempo algum pode ser considerado desperdício de tempo. Muitos (assim como eu, confesso) podem não ter conhecimento, mas esse caso, que gerou protestos calorosos na ocasião, já que uma brecha na lei fez com que a defesa de Doca Street alegasse legítima defesa da honra, libertou o assassino em dois anos. Anos depois, em 1981, um novo julgamento condenou Doca por mais 15 anos em regime fechado. Por essa e tantas injustiças ocorridas ao longo dos anos, o STF continua sustentando que a tese é inconstitucional.
Mas o longa não é válido só por fomentar nossa curiosidade acerca dos bastidores da história, mas também pela presença marcante de Isis Valverde, que capta a alma radiante e o espírito livre da chamada Pantera Mineira (apelido que ganhou do jornalista e apresentador de televisão Ibrahim Sued), que não admitia rótulos ou ser diminuída por ser mulher. Todos os aplausos para a atriz na estreia do filme em Gramado esse ano com toda certeza se justificam.
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