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'Uma Boa Pessoa' : Florence Pugh e Morgan Freeman emocionam em drama sobre luto e redenção | 2023

NOTA 8.0

Por Karina Massud @cinemassud 


A primeira sequência de “Uma Boa Pessoa” já nos dá a noção do quanto a vida de Allison é boa: uma moça feliz e bonita, com um bom emprego, cheia de amigos e com um noivo que a ama. Essa perfeição almejada por muitos está para ser quebrada por um acidente trágico que faz desmoronar a vida de todos, dando lugar a uma existência de muita culpa, dor e idas ao inferno psicológico. Allison perde o relacionamento, o trabalho e afetos, e se afunda no vício dos remédios pra dor. E é através de uma tentativa de sair do fundo do poço que ela reencontra Daniel, seu quase ex-sogro, de onde surge uma amizade improvável de duas pessoas em busca de superação.

O ator Zach Braff (famoso pela série “Scrubs) estreou na direção há duas décadas com o ótimo “Hora de Voltar”, e desde então fez somente longas sem grande repercussão. Em “Uma Boa Pessoa”, ele dirige e assina o roteiro, se saindo bem melhor na primeira do que na segunda função. O roteiro é batido: personagens que perdem entes queridos e têm a vida virada do avesso, pra depois se unirem numa trajetória de cumplicidade, dor, e quem sabe, vitória. As tramas secundárias do filme são jogadas e deixadas de lado sem qualquer resolução. No terço final há uma sequência muito ruim, que com edição e montagem toscas deixam uma interrogação no espectador, mas logo a trama volta pros trilhos, para alívio de quem achava que ela iria ser arruinada logo no desfecho.  O que tira o longa  do lugar-comum entediante é a dupla de protagonistas altamente gabaritada e muito bem dirigida por Braff, que mergulha em seus dramas e motivações, tirando o melhor da dupla Florence Pugh (sua ex-mulher) e Morgan Freeman.

Florence Pugh, apesar de jovem, é uma das melhores atrizes da atualidade; ela está brilhante como a visceral Allison, jovem que começa a trama esfuziante e feliz, com a  graça e leveza de quem se relaciona com o amor da sua vida, pra depois mergulhar na dor da culpa. As várias perdas a levam ao fundo do poço, com depressão e vício em opioides. Ela mergulha nas crises de abstinência e na violência contra todos ao redor e vive na ânsia de poder voltar no tempo e reparar o seu erro. Florence está magistral e se entrega de corpo e alma em cada momento da personagem. 

Morgan Freeman dispensa apresentações e nos entrega, depois de vários trabalhos medianos, uma performance impecável como o policial aposentado Daniel, ex-alcoólatra que tem muitos desafios a superar, assim como o luto, a tentação da bebida nos piores momentos e a criação da neta adolescente. Ele é uma lenda do cinema, e sua química com Pugh é excepcional; estamos diante de duas pessoas falíveis e com cicatrizes profundas, que tropeçam e levantam ao longo do caminho a fim de recuperar as rédeas das próprias vidas.

Allison e Daniel são personagens atormentados em busca da paz de espírito, num limite tênue no qual a narrativa flerta com o dramalhão exagerado, mas as interpretações envolventes de Pugh e Freeman desviam nossa atenção desse deslize e fazem do filme uma ótima experiência.






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