'Brado': longa traz bela história de reaproximação e cura entre pai e filho | 2023
NOTA 7.5
Por Karina Massud @cinemassud
De acordo com o dicionário, “brado” quer dizer grito forte, súplica em voz alta, título que cabe bem ao novo longa do diretor, roteirista e ator italiano Kim Rossi Stuart. “Brado”, seu terceiro trabalho depois de “Estamos Bem Mesmo sem Você” (2006) e “Tomm aso” (2016), é um pedido de ajuda de Renato e Tommaso, pai e filho que, na missão de domar um cavalo que parece “indomável”, se digladiam na ânsia de curar seus fantasmas. Esse não é um filme sobre pets inspiradores; Trevor, o cavalo arredio, é apenas um elo e fio condutor da trama, que é sobre a complicada relação de dois homens fortes mas muito machucados e difíceis de se abrir pra sentimentos mais leves.
Renato é um homem solitário que cuida de uma fazenda de cavalos decadente onde o único animal (e cliente) que restou é esse cavalo bravo que já lhe causou diversos problemas. É quando seu filho Tommaso, sabendo que o pai sofreu um acidente, decide ir pra lá ajudar no trabalho, pois transformar Trevor num vencedor pode salvar o rancho falido. É preciso domar as duas feras: o cavalo e o pai.
O diretor Kim Rossi Stuart vive, no limite tênue da caricatura, esse que é o vilão da trama, ele é tão frio e agressivo, e toma atitudes tão selvagens, que fica difícil nutrir alguma empatia por ele. Renato faz de tudo para deixar a vida de todos a pior possível, sendo desagradável e cruel; ele carrega muitas mágoas que joga em cima do filho, e nem rodeado por amigos e familiares ele se desarma ou enxerga algo de positivo na vida. Saul Nanni vive lindamente Tommaso, um jovem de vida modesta que lhe garante independência. Ele tem uma lacuna que é a da proximidade e amor familiar. O ódio e raiva do pai tem que ser resolvidos de alguma forma para que sua vida deslanche; é por isso que ele investe tudo nessa reaproximação, para quem sabe ter uma boa lembrança da figura paterna, ainda associada a abandono e trauma.
O roteiro do longa é focado no desenvolvimento dos personagens, nas suas motivações, brigas e consequente evolução. A ação está nos pesados diálogos entre eles, que se acusam de ter arruinado a vida um do outro, vomitando todas as mágoas que os corroem. Essa é uma produção simples e de baixo orçamento, mas que cativa com cenas sofisticadas de forte apelo e beleza, como esses embates entre pai e filho e os closes dos cavalos garbosos saltando com elegância nas pradarias.
“Brado” está longe da perfeição, tem seus exageros e clichês, mas a poesia nas imagens no campo e a emoção no resgate entre pai e filho garantem uma catarse violenta no final, esteja preparado para ela.
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