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'Camaleões': presença marcante de Benicio Del Toro não camufla problemas em mais um thriller genérico da Netflix | 2023

NOTA 4.0

Por Alan Ferreira @depoisdaquelefilme


Não demora mais do que cinco minutos para que a metáfora presente no título do thriller “Camaleões” (inclusive no original “Reptile”) seja exposta de maneira visual para o espectador. Ao adentrar na bela casa onde mora, o bem sucedido corretor imobiliário Will (um bem canastra Justin Timberlake) vai encontrar a pele antiga deixada por algum réptil bem antes de se deparar com o corpo ensanguentado de sua namorada. Deixando logo evidente que vai girar em torno de pessoas que se “camuflam”, a trama deste projeto disponível no catálogo da Netflix, após uma abertura que expõe a fragilidade da relação do referido casal, não vai esconder sua devoção aos signos da cartilha do gênero sobre o qual se debruça.

Sob a carapaça do detetive durão escalado para solucionar o caso, Benicio Del Toro (também produtor e corroteirista) atua numa linha muito próxima a de um Humphrey Bogart latino, de expressão quase sempre fechada, com uma ou outra tirada cética. O astro porto-riquenho é o lastro de um elenco bastante irregular, incapaz de segurar as nuances impostas pelo flerte com o cinema noir, que conta ainda com o retorno a uma grande produção de Alicia Silverstone (“As Patricinhas de Beverly Hills”) e com Michael Pitt (“Os Sonhadores”), este último o mais chamativo dentro da galeria personagens esquisitões que o longa apresenta para criar uma gama de possíveis suspeitos.

Se o desenrolar da trama, com suas pistas falsas bem mequetrefes, perde bons minutos de sua primeira hora visitando suspeitos com “cara de culpado”, sobra pouco tempo para um melhor desenvolvimento da relação de confiança entre Tom Nichols (Del Toro) e os outros membros de sua delegacia, especialmente com o parceiro Dan (Ato Essandoh), e quando isso é feito, a lapidação dos diálogos não consegue imprimir-lhes o senso de companheirismo necessário, até mesmo porque é clara a intenção de colocar todos ali como membros de uma espécie de família.

Talvez consciente de que estivesse forjando um filme excessivamente carregado de clichês e referências (os lentos movimentos de câmera e uma suposta atmosfera densa proposta pela trilha, por exemplo) que lhe “garantiriam” o selo de qualidade tal qual um herdeiro de clássicos como “O Silêncio dos Inocentes” e “Seven”, o diretor Grant Singer até tenta, com auxílio da montagem e do desenho de som, conferir alguma identidade estética à sua condução através de interessantes jump scares. Não fosse por isso, e pela sempre imponente presença de Benicio Del Toro, “Camaleões” se misturaria, sem chamar muita atenção, à paisagem de um catálogo cada vez mais afeito às predileções impostas pela lógica dos algoritmos.  








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