Adsense Cabeçalho

Mostra SP: 'Anatomia de uma Queda' | 2023

Com grande atuação de Sandra Hüller, vencedor da Palma de Ouro subverte as tradições do thriller jurídico. 

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 


O thriller jurídico é um subgênero amplamente popular, sobretudo no contexto de Hollywood, onde muitas vezes somos imersos nas grandiosas representações dos tribunais norte-americanos, uma realidade distante da nossa, mas já fixados no nosso imaginário. Essa popularidade é resultado de diversos fatores, que tem como o maior deles, o elemento nacionalista, porém, também é importante mencionar que essas tramas são mestres em criar uma atmosfera de crescente tensão e desconfiança, além de explorar complexas ambiguidades morais, introduzir reviravoltas surpreendentes e apresentar dilemas éticos de caráter universal. Entretanto, mesmo com o estilo consolidado, sempre há espaço para subverter expectativas, e "Anatomia de uma Queda" desempenha esse papel com maestria. Dirigido brilhantemente por Justine Triet, o filme nos apresenta a um caso intrigante, mas, de maneira sagaz, não nos convida a julgar. Em vez disso, somos conduzidos a uma observação angustiante e melancólica do desenrolar dos acontecimentos. 

Na trama, acompanhamos Sandra (Sandra Hüller) , Samuel (Samuel Theis) e seu filho, Daniel (Milo Machado Graner), uma família que vive isolada em uma área remota nas montanhas. A paz do cenário é abruptamente interrompida quando Samuel é encontrado morto, suscitando dúvidas sobre as circunstâncias misteriosas que o levaram a queda fatal. Com Sandra emergindo como a principal suspeita, desencadeia-se uma investigação em busca de desvendar os segredos que envolvem esse trágico acontecimento.  

O uso do som, assim como qualquer técnica cinematográfica, é de importância fundamental na manipulação das emoções. No entanto, seu uso inadequado pode tornar o filme excessivamente manipulativo, comprometendo esse investimento emocional. Em "Anatomia de uma Queda", é notável como o som diegético, ou seja, aquele integrado ao contexto ficcional, preenche espaços fora da tela. Por exemplo, a música alta de Samuel no início, que denuncia sua presença, e quando Daniel toca o piano, expressa sentimentos internos que ele tenta reprimir. Nas cenas do julgamento, a trilha sonora desaparece, dando espaço exclusivo aos diálogos, com poucos momentos de silêncio que conferem um tom mais neutro às sequências. Essa abordagem torna desafiador assumir qualquer posição definitiva, o que parece ser a intenção de Trier, que mantém certa distância das noções tradicionais de culpado e inocente. Embora a mídia tenha algum papel na narrativa, o foco não é o sensacionalismo da cobertura jornalística, mas sim as consequências nas vidas pessoais dos envolvidos. O filme exige uma postura mais ativa por parte do espectador e, embora mantenha um ritmo consistente, sua longa duração de 2 horas e meia pode tornar a jornada exaustiva.  

O longa foi o grande vencedor da Palma de Ouro na 76ª edição do Festival de Cinema de Cannes, feito que consagrou Justine Triet como a terceira mulher na história a conquistar o prêmio. No entanto, surpreendentemente, o filme não foi a escolha da comissão francesa para representar o país na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar, possivelmente devido à maioria dos diálogos em língua inglesa. Independentemente das circunstâncias, "Anatomia de uma Queda" é inegavelmente uma obra que merece destaque, e é seguro afirmar que, seja por qual caminho for, continuará a ter um impacto significativo nos próximos anos. 






Nenhum comentário