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'Dinheiro Fácil' : comédia desmistifica o mercado de ações em trama acessível e envolvente | 2023

NOTA 8.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica


A pandemia de COVID-19 deixou vários legados, alguns benéficos, como o uso de máscaras e álcool em gel, e outros terríveis, como o QR Code em bares e restaurantes. No entanto, uma das mudanças mais notáveis foi a explosão de pequenos e micro investidores no mercado de ações. Nesse campo de batalha, as grandes corporações normalmente dominam, mas a vida surpreende, e como a clássica história de Davi contra Golias, a narrativa de "Dinheiro Fácil" cativa, mostrando como pessoas comuns podem desafiar o status quo. 

Baseada em eventos reais, a história acompanha Keith Gill (Paul Dano), um investidor comum que, em colaboração com um grupo do fórum Reddit, concebe uma estratégia audaciosa para revitalizar a quase falida loja de jogos GameStop. Quando a estratégia se revela um sucesso, desencadeia-se uma verdadeira tempestade em Wall Street. 

Na abordagem de um tema complexo, o cinema frequentemente se depara com desafios que exigem soluções inovadoras. Um exemplo notável foi o lançamento de "A Grande Aposta" (2015), de Adam McKay, que se destacou por adotar um estilo bastante original que veio a se tornar uma marca do cineasta. Em "Dinheiro Fácil", Craig Gillespie, mesmo diretor de “Eu, Tonya” (2017), opta por uma pegada mais didática, mantendo-se na realidade dos fatos, mas direcionando maior atenção para as diversas pessoas envolvidas na trama. Essa escolha criativa demonstra eficácia, uma vez que permite ao público fácil identificação com as problemáticas de cada personagem, tornando o filme mais acessível e envolvente para um público mais amplo, ao mesmo tempo em que oferece uma narrativa informativa e fiel à realidade.  

No entanto, é importante ressaltar que esse didatismo não subestima o espectador, evitando diálogos expositivos. Ao invés disso, as explicações são transmitidas por meio de contrastes visuais. Nos primeiros trechos, observamos planos de estabelecimento que destacam a disparidade entre as residências dos personagens, além de planos detalhes nos trajes e calçados que cada um utiliza. Em questão de minutos, o público compreende a magnitude desse desnível social e a importância da batalha que se desenrolará, despertando assim não só interesse, mas também nossa torcida. Os "Lobos de Wall Street" são retratados com uma dose de “canastrice”, o que pode soar exagerado, mas esse enfoque é intencionalmente voltado para a comédia, tornando a atmosfera do filme mais convidativa. 

Certamente, casos como o da GameStop são excepcionais e não devem ser interpretados como lições de empreendedorismo e meritocracia, mas eles têm o poder de despertar uma sensação de prazer quando vemos aqueles que estão em desvantagem conseguindo superar os poderosos. Essa narrativa é recorrente em diversos gêneros, desde histórias de guerras com vitórias improváveis, como "Dunkirk", até dramas infantojuvenis, como "Karatê Kid". Indiscutivelmente, há em todos nós uma sede por justiça que o cinema sabe explorar, e no caso de "Dinheiro Fácil" essa habilidade é realizada com maestria. 




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