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Festival Varilux de Cinema Francês : 'Almas Gêmeas' | 2023

NOTA 6.0

Longa impacta ao explorar a busca por identidade e os conflitos das paixões proibidas

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 

 

O romance, sendo um gênero notavelmente versátil e amplamente apreciado, por vezes surpreende ao se aventurar em caminhos menos convencionais. Com uma abordagem paradoxal, algumas narrativas desafiam as expectativas do romantismo tradicional, mergulhando em um território inesperado e até desconfortável. "Almas Gêmeas" destaca-se como um exemplo de "anti-romantismo", um termo que reflete a dualidade intrínseca à trama, carregando consigo uma verdade incontestável e um pecado imensurável. Este título intrigante sugere um enredo que transcende as convenções, explorando nuances emocionais que podem desafiar o expectador. 

Após um ataque contra seu comboio militar no Mali, David Faber (Benjamin Voisin) é trazido de volta à França. Com graves queimaduras e sem lembrar de nada anterior ao atentado, ele passa meses em recuperação sob a cuidadosa vigilância da devotada irmã Jeanne (Noémie Merlant). Em meio a uma série de desafios, David empreende uma busca incansável pela própria identidade, confrontando não apenas sentimentos conflitantes, mas também paixões proibidas.  

Com André Téchiné à frente na direção, o filme revela a maturidade do diretor, cujo histórico de carreira remonta aos anos 60 como crítico da lendária revista Cahiers du Cinéma, seguido de sua estreia na direção no final daquela mesma década. Este contexto é crucial para compreender a abordagem de Téchiné em lidar com temáticas tabu e suscetíveis a polêmicas fora da tela. Sua experiência sólida contribui para uma condução segura e ética, fator essencial ao explorar tópicos delicados. "Almas Gêmeas" se destaca ao abordar questões desconfortáveis sem recorrer a olhares de julgamento, ou pior, com viés sensacionalista. O cineasta opta por uma narrativa de tons mais "frios", e essa frieza se reflete nos cenários, onde o avançar do inverno e a chegada da neve se tornam metáforas externas de eventos internos, especialmente dos protagonistas. O tema da identidade, mesmo gradualmente cedendo espaço, ressurge no segundo ato através de um arco de um personagem secundário, amplificando a complexidade da problemática e transmitindo uma mensagem importante.  

Na transição do segundo para o terceiro ato, a atmosfera tensionada persiste, mas assume contornos distintos, evocando a sensação de estabilidade após o impacto causado por revelações surpreendentes. Mais uma vez em sintonia com o cenário que os envolve, o filme culmina em águas turbulentas, no entanto, os protagonistas emergem de mãos dadas, ostentando um sorriso que revela a conquista da felicidade, muito embora tal suposta vitória também cobre seu preço. 






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