Festival Varilux de Cinema Francês: 'Memórias de Paris' | 2023

NOTA 7.5

Virginie Efira vive personagem em busca de respostas após tragédia 

Por Rogério Machado

Alice Winocour tem despontado como roteirista há algum tempo e mais recentemente na direção, e em 'Memórias de Paris', seu mais novo filme, a cineasta francesa traz ao público os tormentos de uma mulher que viveu (e vive) os traumas do terrorismo. A estrela Virginie Efira, uma das atrizes mais atuantes da francofonia na atualidade, é quem encarna essa mulher que está em busca de respostas para o mal que se abateu sobre ela. Mas será que há como superar um trauma violento?

Não há como esquecer quando em 2015, Paris e Saint-Denis foram alvo de ataques terroristas. Ocorreram três explosões simultâneas em locais diferentes, mas o ataque que mais causou mortes foi na casa de espetáculos Bataclan, onde os terroristas fuzilaram várias pessoas e fizeram outras reféns até o início da madrugada. No total, o ataque resultou em 130 mortes e 350 feridos, alguns em estado grave. No dia seguinte, a organização jihadista do Estado Islâmico assumiu a responsabilidade desse atos violentos na capital francesa. Inspirado nesses eventos fatídicos, Winocour nos apresentará Mia (Efira), que se encontrava em um charmoso restaurante naquela mesma noite, mas a situação foi de tal modo traumática que ela apagou tudo da memória. Três meses depois de ter sobrevivido, Mia continua traumatizada e incapaz de se lembrar de tudo o que realmente aconteceu. Numa tentativa de superar esses fantasmas, ela começa a investigar as suas memórias e a refazer todos os seus passos.

Alice Winocour ('Augustine', 'O Espaço Entre Nós') vai além do drama vivido por Mia e também faz reverberar um aspecto social que é dilema em todo o mundo: a informalidade trabalhista de estrangeiros. Entre tantos laços dolorosos criados à partir desse evento traumático, o destino fez Mia cruzar seu caminho com o de um cozinheiro que se tornou uma espécie de esteio durante o atentado. Ao investigar seu interior, Mia também descobre um mundo que ela desconhecia, onde milhares de estrangeiros, que vivem ilegalmente no país, convivem com a conivência de estabelecimentos que empregam às escondidas, privando essas pessoas de direitos e benefícios. É claro que a narrativa não se prende a esse tema, e é exatamente por isso que o filme perde alguns pontos. 

No entanto, nosso interesse na trama permanece intacto do início ao fim justamente pelo talento de uma atriz do cacife de Virginie Efira, que se molda tanto ao drama como também aos traços de thriller e discussão social que o longa de Winocour percorre. Ainda que saibamos que estamos diante de uma história de sobreviventes e sobrevivência, acredito que a narrativa caminhe um tanto solta  e  perca tempo com irrelevâncias, pulverizando o sofrimento através de personagens secundários que na verdade não servem ao drama da protagonista. Ainda que hajam distrações, Winocour consegue imprimir a mensagem que realmente importa: a que o terrorismo é uma doença crônica cujas marcas  ficam pra sempre no corpo e na mente de quem um dia viveu esse horror.