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'Sly' : Stallone oferece uma jornada pessoal e desconstrói o mito do herói em produção Netflix | 2023

NOTA 7.0

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 


As primeiras palavras do documentário "Sly" são do próprio Sylvester Stallone, na qual ele diz: "Se eu tenho arrependimentos? P#rr@, se tenho!". A frase é uma síntese do que está por vir e é razoável afirmar que esta nova produção Netflix é sobre dores, lamentos e perdas. Claro, há espaço para celebrar sua carreira e até mesmo vislumbrar um futuro prospero, mas Stallone demonstra maior interesse em realizar uma análise crítica de seu legado.  

Recentemente, foi lançada uma série documental também na Netflix que retrata a vida e carreira de Arnold Schwarzenegger. Dada a rivalidade e as semelhanças em suas trajetórias, é inevitável fazer certas comparações. No entanto, Sylvester Stallone opta por uma abordagem mais enxuta, em formato de longa-metragem, concentrando-se em uma jornada mais interna e íntima. Isso contrasta com a abordagem de Arnold, onde prevalece uma narrativa mais egocêntrica, muitas vezes estruturada em torno da figura mitológica do "self-made man", enfatizando a autodeterminação e o sucesso individual. 

Em "Sly", a maioria das entrevistas e depoimentos ocorre na mansão do astro, onde simultaneamente ocorre o recolhimento e retirada de alguns itens e móveis do local, sugerindo mudanças simbólicas e literais. O espaço está repleto de itens personalizados que representam a notável carreira de Stallone, mas um nome em particular se destaca, tanto na decoração quanto na narrativa: a saga "Rocky". Embora as franquias "Rambo" e "Mercenários" tenham desempenhado papéis relevantes em sua carreira, nada se compara à importância de "Rocky", afinal, foi o projeto que o impulsionou à fama e cujas sequências estiveram sempre intimamente ligadas à sua vida pessoal, desde sua experiência desafiadora com a escrita e direção, até os conflitos da paternidade. Este último aspecto gera o segmento mais emotivo do filme, uma vez que em 2012, seu filho Sage foi encontrado morto devido a um ataque cardíaco, e é importante lembrar que o rapaz, que também era ator, contracenou com o pai em "Rocky V" (1990). 

É fascinante observar nossas lendas transformarem-se em indivíduos comuns, desprovidos de toda a fama e glória. Este exercício de proximidade nos permite encontrar identificação e conexão. O sucesso duradouro de Rocky reside, em grande parte, na facilidade com que nos identificamos com ele. Talvez, no fundo, todos nós possuamos um pouco de Rocky, pois, como bem ressaltado no memorável monólogo de "Rocky Balboa" (2006), "a verdadeira medida de um homem não é o quão forte ele bate, mas sim o quão forte ele consegue suportar os golpes que a vida lhe dá". A frase carrega um tom de otimismo em meio a tempos difíceis, algo que ecoa também ao final do documentário, e esse otimismo parece ser uma constante na filmografia assinada por Sylvester Stallone, que frequentemente oferece finais felizes, ou, no mínimo, agridoces e aqui neste caso, não é diferente.





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