Adsense Cabeçalho

'Godzilla Minus One' : produção japonesa mergulha na gênese do monstro e entrega impactante entrada na franquia | 2023

NOTA 9.0 

Por Rafa Ferraz @issonãoéumacrítica 


Em 1954, a Toho Film Company lançou o filme "Gojira", inaugurando uma franquia que transcenderia o cinema para se tornar uma influência duradoura na cultura pop. De origem japonesa, a produção carrega simbolismos e anseios intrínsecos ao povo japonês daquela época. No entanto, em 1998, os EUA realizaram sua primeira incursão nesse universo. O resultado foi um filme distante do original, com a remoção de habilidades tradicionais do Godzilla e uma aparência pouco inspirada. A iniciativa foi um fracasso, e somente em 2014 os EUA retomaram a ideia, dando início ao “monsterverso”, um projeto ainda em curso que tem conquistado considerável apelo popular. Após a produção de um total de 32 filmes, incluindo o excelente "Shin Godzilla" de 2016, a Toho retoma sua criação, mergulhando na gênese do monstro e criando uma das melhores entradas na franquia. 

Na trama, acompanhamos Shikishima (Ryunosuke Kamiki), um soldado kamikaze que, ao desertar de seu posto no campo de batalha, retorna à sua cidade tornando-se um pária na sociedade. Com a devastação causada pela guerra e a perda de seus pais, o destino o une a Noriko (Minami Hamabe), uma doce mulher responsável por cuidar de uma bebê órfão. À medida que tentam reconstruir suas vidas em meio às ruínas, um evento impactante desencadeia a ativação de uma bomba atômica, despertando uma poderosa criatura proveniente do oceano. Agora, essa ameaça colossal coloca o país à beira da aniquilação.

A fascinação aos filmes de monstros reside na representação da criatura como uma força de imensa imponência e terrível capacidade de destruição. Esta abordagem frequentemente desloca a atenção dos aspectos humanos, relegando-os a um papel secundário e, por vezes, tornando-os desinteressantes. Em "Godzilla Minus One", isso ainda acontece, mas em menor grau quando comparada as suas variantes norte-americanas. Ao abraçar uma estrutura clássica de melodrama, "Godzilla Minus One" conduz a trama principal por um caminho direto, fazendo uso de arquétipos facilmente reconhecíveis e, dessa forma, traçando um percurso eficaz que estabelece uma conexão imediata com o público. O protagonista, Shikishima, desempenha o papel do típico herói em busca de redenção, cercado pelo corajoso questionador, Yoji (Kuranosuke Sasaki), e pelo cientista Kenji Noda (Hidetaka Yoshioka). A presença dessas figuras arquetípicas, embora familiares no cenário cinematográfico e literário, não denota uma abordagem preguiçosa; ao contrário, revela-se uma astuta maneira de direcionar a narrativa diretamente para o cerne do que realmente importa 

As sequências com o Godzilla são notáveis, destacando-se pela cinematografia cuidadosa e um design gráfico que preserva a essência original do monstro, enquanto adiciona camadas e texturas que conferem um senso assustador de realidade. A imponência, o poder de destruição e a noção da magnitude dessa capacidade são tangíveis, não apenas visualmente, mas também através dos sons emitidos pela criatura. Mesmo antes da demonstração completa de seus poderes, a potência com que emerge dos mares já antecipa o que está por vir. No terço final, o filme introduz um elemento de cunho ideológico que destoa do cânone estabelecido até então. No entanto, essa divergência não se configura como um defeito, uma vez que quase sete décadas de transformação levaram a percepções e formações de mundo muito distintas. 

Godzilla, como a personificação do medo das armas nucleares, transcende o simples monstro cinematográfico. Originado por uma explosão nuclear, sua magnitude, força avassaladora e capacidade de causar terror e destruição evocam vividamente a angústia das bombas atômicas que assolaram um Japão já devastado após anos de guerra, deixando sequelas que ecoam até os dias atuais, marcando a pele e a alma daquele povo. Em "Godzilla Minus One", testemunhamos a capacidade única do cinema de massa em oferecer substância e densidade, enquanto simultaneamente proporciona um espetáculo visual de tirar o fôlego. 





Nenhum comentário