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Dica do Papo! 'A Malvada' - 1951

A nossa matéria especial de hoje que vez por outra traz dicas de filmes que já não são lançamento ou mesmo clássicos,  está de volta essa semana com um dos maiores sucessos da diva Bette Davis. 

A atriz , que tinha fama de criar rivalidades com as colegas de cena, dessa vez encarna uma atriz de teatro e coincidência ou não,  a premissa de 'A Malvada' (1951) se assemelha muito aos casos de bastidores envolvendo a grande e também temperamental atriz. 


'All About Eve' (no original) começa na noite de entrega do prêmio Sarah Siddons, é quando todas as atenções se voltam para Eve Harrington (Anne Baxter). Utilizando o flashback, a vida de Eve é revelada, desde quando conheceu e foi contratada como secretária de Margo Channing (Bette Davis), uma grande estrela da Broadway, até ela mesma alcançar o estrelato, entretanto os planos de Eve iriam muito além do que ter do lado seu ídolo dos palcos. 

Todo mundo sabe que sempre me queixo de algumas versões de filmes estrangeiros para o português. As versões brasileiras de muitos títulos são, muitas vezes, motivo de piada. No entanto, não podemos culpar a falta de criatividade das traduções que, eventualmente, conseguem ser mais poéticas e interessantes do que os títulos originais. O caso de A Malvada é particularmente interessante. Além de ser obviamente diferente e talvez mais impactante do que o original, o título nacional parece induzir o espectador a um engano que tem tudo a ver com o espírito do filme. Explico: para o público de 1950, ano em que o longa-metragem foi lançado, a imagem de malvada estava muito mais associada à Bette Davis, intérprete de Margo Channing e estrela do filme, do que a Anne Baxter, que interpreta a verdadeira vilã, Eve Harrington. Joseph L. Mankiewicz, diretor e roteirista do clássico, também utiliza a mesma estratégia no filme! Mankiewicz retarda o quanto pode a confirmação do mau-caratismo de Eve, alimentando a dúvida sobre as protagonistas. Se até mesmo nos dias de hoje algumas pessoas se surpreendem, ao longo do filme, ao descobrirem que a malvada é de fato Eve, imagine nos anos 50?



Davis não fez apenas megeras ou vilãs no cinema, mas sempre mostrou um talento único para interpretá-las. Para se ter uma ideia da reputação que a atriz alcançou por conta de tais personagens, basta dizer que o filme protagonizado por ela em 1949, Beyond the Forest(Além da Floresta, em português), foi traduzido no Brasil como o esdrúxulo A Filha de Satanás. Até 1950, quando A Malvada estreou no cinema, a atriz já havia colecionado algumas megeras remarcáveis, como Mildred Rogers (em Escravos do Desejo - 1934) e Regina Giddens (emPérfida - 1941), além de mocinhas nada convencionais ou adocicadas, como Joyce Heath (emPerigosa – 1935) e Julie (em Jezebel - 1938).



Bette Davis e Anne Baxter em ultima cena juntas
No fim dos anos 40, já desvinculada da Warner Bros., Davis tentava dar um novo rumo a sua carreira que havia entrado em franca decadência. Muitos estavam convencidos da aposentadoria da atriz. Mas eis que, inesperadamente, surge a oportunidade de substituir Claudette Colbert no novo projeto de Mankiewicz. Ao ler o roteiro, Davis soube imediatamente que Margo Channing era a sua grande chance de dar a volta por cima. Ela filmou em apenas 16 dias, levou o prêmio de Melhor Atriz em Cannes pelo papel e foi indicada pela nona vez ao Oscar. Os críticos que haviam sido tão duros com ela nos anos anteriores se renderam aos seus pés. A renomada crítica de cinema americana Pauline Kael não gostou da maneira com o qual Mankievics retratou o universo teatral, mas afirmou que a performance de Davis salvou o filme e que a atriz foi ao limite das reações e emoções de sua personagem, fazendo com que tudo ganhasse vida. 

Por falar em prêmio de Melhor Atriz, Davis era a favorita ao Oscar em 1951 (mesmo tendo como concorrente Gloria Swanson, por Crepúsculo dos Deuses). A ironia do destino é que ela foi atrapalhada justamente por Anne Baxter (sua antagonista no filme), que exigiu ser promovida como principal e, ao ser indicada na mesma categoria que a colega, provavelmente ocasionou a divisão de votos entre as duas, fazendo com que a estatueta fosse para a zebra Judy Holliday, por sua interpretação na ótima comédia Nascida Ontem (1950). A Malvadaentrou para a história da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas por possuir o recorde de indicações ao Oscar, 14 no total. Esse número só foi igualado por Titanic (1997). 



O filme é famoso também por seus diálogos afiados, pelas frases antológicas e pelo ótimo conjunto de atuações.  Encabeçando o elenco, temos Davis que nos presenteia com a melhor atuação da sua carreira, numa performance cheia de fúria e intensidade. O maior mérito da atriz é o de humanizar a personagem, revelando também sua vulnerabilidade e seus defeitos. Sua interpretação se contrapõe perfeitamente com a da quase robótica e fria Baxter. Quem também brilha é a eterna coadjuvante Thelma Ritter, que está impagável na pele de Birdie (personagem escrita especialmente para ela). Sanders e Holm também estão excelentes. Esses cinco atores foram indicados ao Oscar, apenas Sanders ganhou. Ainda sobre a premiação, outro recorde obtido por 'A Malvada', que ainda não foi quebrado, é o de número de indicações (quatro) para atuações femininas em um mesmo filme. 
Marilyn Monroe como Mrs Casswell 


O clássico de 1950 também é lembrado por ser aquele que abriu as portas da fama para Marilyn Monroe. A rápida participação da atriz no filme não passou despercebida e, logo a seguir, sua carreira decolou em Hollywood.



Repleto de diálogos memoráveis e atuações exuberantes, 'A Malvada' é destes filmes que não envelhecem. E se o talento de todos os envolvidos é responsável direto por isso, seu tema principal também colabora bastante, já que a ambição pelo sucesso é algo que o ser humano naturalmente carrega, ainda que nem todos precisem de ferramentas tão sujas quanto às utilizadas por Eve Harrington para serem bem sucedidos. Ainda que tenha pisado em todos ao seu redor, Eve de fato chegou ao topo, mas neste mundo tudo é passageiro e a ótima sequência final ilustra que sempre existirão novas “Eves” preparadas para dar o bote. 











'Papo de Cinemateca - Porque Cinema e Diversão é com a gente Mesmo.'








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