Especial: 'Piratas do Caribe' (2003- 2017)
Por VinÃcius Martins @cinemarcante
É inegável que 'Piratas do Caribe' seja um sucesso. Os malabarismos e as peripécias de Jack Spar… ops, Capitão Jack Sparrow - melhor dizendo - são sempre incrÃveis e pra lá de surpreendentes. A trilha sonora marcante, obra do talento Klaus Badelt (achava que Hans Zimmer era o compositor original? Se enganou. Zimmer compôs as trilhas dos filmes 2,3 e 4 com base no arranjo original de Badelt), grudou na memória de quem assistiu e persiste até hoje na lembrança da maioria. Mas o que dá para tal franquia, que “nasceu” de uma atração temática da Disneylândia, tanta audiência?
Todos estão acostumados a ouvir histórias e lendas de piratas e batalhas navais épicas ocorridas séculos atrás, e os filmes que se arriscaram no gênero dentro da indústria cinematográfica mantiveram a fórmula e o mesmo aspecto de dilemas, vilanias e ambições. É aà então que, porém, entra no mercado o filme 'Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra', que navega justamente na direção contrária a essa fórmula.
O que se vê em filmes de piratas? Obviamente piratas tentando roubar algum tesouro bastante valioso, não é? Pois no filme dirigido por Gore Verbinski e produzido por Jerry Bruckheimer o público se depara justamente com o contrário. A história presente no roteiro de Ted Elliott e Terry Rossio aponta para um grupo de piratas que tenta, na verdade, devolver um tesouro. Vê o contraste? A franquia já começa inovando desde seu primeiro episódio, e seu filme inaugural seguiu criando toda uma atmosfera de mistério com o acréscimo do fato de o tesouro ser amaldiçoado.
Essa trama de piratas que querem devolver um tesouro ao invés de roubá-lo, se casa com a jornada de um capitão que sofreu motim, uma donzela “indefesa” e um jovem que desconhece suas reais origens e seu lugar no mundo. O resultado dessa premissa é, no mÃnimo, curioso. E o desenvolvimento entre os personagens, com a quÃmica natural que ocorre entre o elenco muito bem escalado, é satisfatório e bonito de se assistir.
Com a boa recepção do primeiro filme, a Disney logo tratou de tornar a história encabeçada pelos personagens de Johnny Depp, Orlando Bloom e Keira Knightley mais comprida. As duas sequências, subtituladas de 'O Baú Da Morte' e 'No Fim Do Mundo', foram filmadas simultaneamente e tiveram suas estreias em 2006 e 2007, trazendo duas partes de um único arco: o pagamento da dÃvida do Capitão Jack Sparrow com o terrÃvel Davy Jones (interpretado pelo gracioso Bill Nighy). 'O Baú Da Morte' venceu o Oscar de Melhores Efeitos Visuais na edição de 2007 da premiação. Para essas duas partes, a criatividade dos roteiristas rumou para a resolução de problemas anteriores e “ocultos” do público em 'A Maldição do Pérola Negra', contando como Jack conseguiu a posse de seu amado navio e de que forma as implicações do passado interferem no tempo atual de Elizabeth Swann e William Turner (personagens de Bloom e Knightley). O casal, assim como Harry Potter, tem que resolver problemas que não foram criados por eles, ocorridos num tempo anterior ao deles, e vive em constante risco de morte. Parece um clichê, mas continua funcionando.
Resolvidos os desafios do primeiro filme e do arco que cobre os filmes dois e três, chegou aos cinemas em 2011 o quarto filme da saga, dessa vez com uma trama nova, novo elenco e novos problemas a serem resolvidos. A produção, infelizmente, não tem a mesma euforia contagiante dos filmes anteriores. Faltou um toque de Verbinski no filme de Rob Marshall, tanto no tempo cômico como também no desenvolvimento do vilão esquecÃvel que foi o Barba Negra (vivido por Ian McShane, um triste desperdÃcio de potencial dentro da franquia). Nem o elenco secundário, com Penélope Cruz, Geoffrey Rush e Sam Claflin (um garoto meio desconhecido na época) conseguiu salvar alguma lembrança significativamente boa na memória dos fãs da trilogia original, que ficaram, em sua maioria, decepcionados.
Com o estrago já feito e a torcida para não estragarem tudo em 'A Vingança de Salazar' (o quinto filme da saga que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 25 de Maio, exatamente dez anos após a estreia de No Fim Do Mundo), chega o momento de fazermos uma breve análise sobre o caráter de Jack Sparrow.
Lembro que na véspera do lançamento de 'O Grande Gatsby', em 2013, o ator Joel Edgerton (que interpreta o infiel Tom Buchanan no longa de Baz Luhrmann) disse que seu personagem no filme não era exatamente um vilão e sim que seria, de certo modo, o “herói de uma outra história”. Seguindo esse raciocÃnio, que apresenta o Sr. Buchanan como um grande herói caso a trama tivesse sido contada sob sua perspectiva, resolvi listar alguns traços de personalidade que poderiam muito bem conceituar o capitão Jack Sparrow como uma figura maligna caso a história de 'Piratas do Caribe' fosse contada pelos olhos de outros personagens.
Jack Sparrow é um cara mau?
Façamos uma análise sobre a conduta de Sparrow em seus filmes. Ele é tido como a versão bad boy de um mocinho, endeusado pelo público com uma pompa de bravura e heroÃsmo; afinal de contas ele é o protagonista. Mas e se a história fosse contada de outro ângulo? Vamos aos fatos:
⚔ Jack é mulherengo.
Não que você, mulherengo, seja uma pessoa má; mas Jack não deixava claro para suas amantes que era tudo casual, e as seduzia com juras e mais juras de amor eterno. Não é a toa que o pirata leva tapas na cara de moças revoltadas por onde passa. Se contassem a história pelo olhar delas, como (meio que) aconteceu no quarto filme, ele seria sem dúvida o cara mau.
⚔ Jack faz dÃvidas que não pode pagar.
O cara deve deus e o mundo, e continua levando os outros na conversa. Não é pra menos que quando Davy Jones resolveu cobrar, a coisa ficou feia pro lado dele, e juros altÃssimos foram acrescentados ao valor final, totalizando cem almas para o arsenal de serviçais do capitão sem coração. Aos olhos de qualquer credor, Jack é um vigarista e um incômodo terrÃvel. Se a história fosse sobre Jones, Jack seria um claro vilão.
⚔ Jack não respeita o sofrimento alheio.
Como bem vemos no primeiro filme, o capitão Barbossa e sua tripulação são amaldiçoados. Em consequência disso, não sentem o gosto das coisas, nem a brisa salpicando em seus rostos, nem o calor do corpo de uma mulher (palavras do próprio capitão). E desse modo, Barbossa permanece com um desejo insaciável de comer maçã. Em uma cena, no jantar com Elizabeth, ele chega a dizer que, assim que a maldição fosse quebrada, comeria um alqueire de maçãs. Jack, que conviveu com Barbossa antes de sofrer um motim, obviamente sabia disso; e ao confrontá-lo para negociar termos faz questão de abocanhar uma suculenta maçã bem diante de Barbossa, e ainda tem a cara de pau de oferecer a ele um pedaço. E depois de tudo isso, ele ainda matou Barbosa sem antes deixar que o coitado comece sua desejada maçã… mas pelo menos sabemos que a fome do velho capitão foi vingada na última cena de 'O Baú da Morte', onde ele aparece com Jack em seu ombro (Jack é o nome do macaco) e uma bela maçã em sua mão, sendo dividida em uma vistosa mordida. Jack não respeita o sofrimento alheio, certeza. Se a história fosse sobre Barbossa, Jack seria um companheiro cruel e insensÃvel.
⚔ Jack rouba coisas.
Desde moedas no cais de Port Royal até corações de moças da vida, passando por navios e objetos aparentemente sem valor. Se a história fosse contada por uma de suas vÃtimas, ele seria o maligno que vem e toma o que não lhe pertence.
Apesar de tudo isso, a conduta de Jack não pode ser questionada, já que ele nunca foi vendido ao público como um homem correto e de caráter inviolável. Desde a primeira cena é esclarecido que ele é um pirata, e é assim que piratas agem. Roubam, mentem, trapaceiam e traem; só não dá pra perdoar a maçã comida, aquilo foi o cúmulo da falta de compaixão.
Independente de ser vilão, herói ou anti-herói, nosso protagonista é Jack Sparrow. CAPITÃO Jack Sparrow. Isso para nós, fãs, já é o bastante.
É inegável que 'Piratas do Caribe' seja um sucesso. Os malabarismos e as peripécias de Jack Spar… ops, Capitão Jack Sparrow - melhor dizendo - são sempre incrÃveis e pra lá de surpreendentes. A trilha sonora marcante, obra do talento Klaus Badelt (achava que Hans Zimmer era o compositor original? Se enganou. Zimmer compôs as trilhas dos filmes 2,3 e 4 com base no arranjo original de Badelt), grudou na memória de quem assistiu e persiste até hoje na lembrança da maioria. Mas o que dá para tal franquia, que “nasceu” de uma atração temática da Disneylândia, tanta audiência?
Keira Knightley e Johnny Deeep em 'A Maldição do Pérola Negra' (2003) |
Todos estão acostumados a ouvir histórias e lendas de piratas e batalhas navais épicas ocorridas séculos atrás, e os filmes que se arriscaram no gênero dentro da indústria cinematográfica mantiveram a fórmula e o mesmo aspecto de dilemas, vilanias e ambições. É aà então que, porém, entra no mercado o filme 'Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra', que navega justamente na direção contrária a essa fórmula.
O que se vê em filmes de piratas? Obviamente piratas tentando roubar algum tesouro bastante valioso, não é? Pois no filme dirigido por Gore Verbinski e produzido por Jerry Bruckheimer o público se depara justamente com o contrário. A história presente no roteiro de Ted Elliott e Terry Rossio aponta para um grupo de piratas que tenta, na verdade, devolver um tesouro. Vê o contraste? A franquia já começa inovando desde seu primeiro episódio, e seu filme inaugural seguiu criando toda uma atmosfera de mistério com o acréscimo do fato de o tesouro ser amaldiçoado.
Essa trama de piratas que querem devolver um tesouro ao invés de roubá-lo, se casa com a jornada de um capitão que sofreu motim, uma donzela “indefesa” e um jovem que desconhece suas reais origens e seu lugar no mundo. O resultado dessa premissa é, no mÃnimo, curioso. E o desenvolvimento entre os personagens, com a quÃmica natural que ocorre entre o elenco muito bem escalado, é satisfatório e bonito de se assistir.
Com a boa recepção do primeiro filme, a Disney logo tratou de tornar a história encabeçada pelos personagens de Johnny Depp, Orlando Bloom e Keira Knightley mais comprida. As duas sequências, subtituladas de 'O Baú Da Morte' e 'No Fim Do Mundo', foram filmadas simultaneamente e tiveram suas estreias em 2006 e 2007, trazendo duas partes de um único arco: o pagamento da dÃvida do Capitão Jack Sparrow com o terrÃvel Davy Jones (interpretado pelo gracioso Bill Nighy). 'O Baú Da Morte' venceu o Oscar de Melhores Efeitos Visuais na edição de 2007 da premiação. Para essas duas partes, a criatividade dos roteiristas rumou para a resolução de problemas anteriores e “ocultos” do público em 'A Maldição do Pérola Negra', contando como Jack conseguiu a posse de seu amado navio e de que forma as implicações do passado interferem no tempo atual de Elizabeth Swann e William Turner (personagens de Bloom e Knightley). O casal, assim como Harry Potter, tem que resolver problemas que não foram criados por eles, ocorridos num tempo anterior ao deles, e vive em constante risco de morte. Parece um clichê, mas continua funcionando.
Resolvidos os desafios do primeiro filme e do arco que cobre os filmes dois e três, chegou aos cinemas em 2011 o quarto filme da saga, dessa vez com uma trama nova, novo elenco e novos problemas a serem resolvidos. A produção, infelizmente, não tem a mesma euforia contagiante dos filmes anteriores. Faltou um toque de Verbinski no filme de Rob Marshall, tanto no tempo cômico como também no desenvolvimento do vilão esquecÃvel que foi o Barba Negra (vivido por Ian McShane, um triste desperdÃcio de potencial dentro da franquia). Nem o elenco secundário, com Penélope Cruz, Geoffrey Rush e Sam Claflin (um garoto meio desconhecido na época) conseguiu salvar alguma lembrança significativamente boa na memória dos fãs da trilogia original, que ficaram, em sua maioria, decepcionados.
Com o estrago já feito e a torcida para não estragarem tudo em 'A Vingança de Salazar' (o quinto filme da saga que chega aos cinemas nesta quinta-feira, 25 de Maio, exatamente dez anos após a estreia de No Fim Do Mundo), chega o momento de fazermos uma breve análise sobre o caráter de Jack Sparrow.
Lembro que na véspera do lançamento de 'O Grande Gatsby', em 2013, o ator Joel Edgerton (que interpreta o infiel Tom Buchanan no longa de Baz Luhrmann) disse que seu personagem no filme não era exatamente um vilão e sim que seria, de certo modo, o “herói de uma outra história”. Seguindo esse raciocÃnio, que apresenta o Sr. Buchanan como um grande herói caso a trama tivesse sido contada sob sua perspectiva, resolvi listar alguns traços de personalidade que poderiam muito bem conceituar o capitão Jack Sparrow como uma figura maligna caso a história de 'Piratas do Caribe' fosse contada pelos olhos de outros personagens.
Depp e Bloom em 'O Baú da Morte' (2006) |
Jack Sparrow é um cara mau?
Façamos uma análise sobre a conduta de Sparrow em seus filmes. Ele é tido como a versão bad boy de um mocinho, endeusado pelo público com uma pompa de bravura e heroÃsmo; afinal de contas ele é o protagonista. Mas e se a história fosse contada de outro ângulo? Vamos aos fatos:
⚔ Jack é mulherengo.
Não que você, mulherengo, seja uma pessoa má; mas Jack não deixava claro para suas amantes que era tudo casual, e as seduzia com juras e mais juras de amor eterno. Não é a toa que o pirata leva tapas na cara de moças revoltadas por onde passa. Se contassem a história pelo olhar delas, como (meio que) aconteceu no quarto filme, ele seria sem dúvida o cara mau.
⚔ Jack faz dÃvidas que não pode pagar.
O cara deve deus e o mundo, e continua levando os outros na conversa. Não é pra menos que quando Davy Jones resolveu cobrar, a coisa ficou feia pro lado dele, e juros altÃssimos foram acrescentados ao valor final, totalizando cem almas para o arsenal de serviçais do capitão sem coração. Aos olhos de qualquer credor, Jack é um vigarista e um incômodo terrÃvel. Se a história fosse sobre Jones, Jack seria um claro vilão.
⚔ Jack não respeita o sofrimento alheio.
Como bem vemos no primeiro filme, o capitão Barbossa e sua tripulação são amaldiçoados. Em consequência disso, não sentem o gosto das coisas, nem a brisa salpicando em seus rostos, nem o calor do corpo de uma mulher (palavras do próprio capitão). E desse modo, Barbossa permanece com um desejo insaciável de comer maçã. Em uma cena, no jantar com Elizabeth, ele chega a dizer que, assim que a maldição fosse quebrada, comeria um alqueire de maçãs. Jack, que conviveu com Barbossa antes de sofrer um motim, obviamente sabia disso; e ao confrontá-lo para negociar termos faz questão de abocanhar uma suculenta maçã bem diante de Barbossa, e ainda tem a cara de pau de oferecer a ele um pedaço. E depois de tudo isso, ele ainda matou Barbosa sem antes deixar que o coitado comece sua desejada maçã… mas pelo menos sabemos que a fome do velho capitão foi vingada na última cena de 'O Baú da Morte', onde ele aparece com Jack em seu ombro (Jack é o nome do macaco) e uma bela maçã em sua mão, sendo dividida em uma vistosa mordida. Jack não respeita o sofrimento alheio, certeza. Se a história fosse sobre Barbossa, Jack seria um companheiro cruel e insensÃvel.
⚔ Jack rouba coisas.
Desde moedas no cais de Port Royal até corações de moças da vida, passando por navios e objetos aparentemente sem valor. Se a história fosse contada por uma de suas vÃtimas, ele seria o maligno que vem e toma o que não lhe pertence.
'Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar' (2017) |
Apesar de tudo isso, a conduta de Jack não pode ser questionada, já que ele nunca foi vendido ao público como um homem correto e de caráter inviolável. Desde a primeira cena é esclarecido que ele é um pirata, e é assim que piratas agem. Roubam, mentem, trapaceiam e traem; só não dá pra perdoar a maçã comida, aquilo foi o cúmulo da falta de compaixão.
Independente de ser vilão, herói ou anti-herói, nosso protagonista é Jack Sparrow. CAPITÃO Jack Sparrow. Isso para nós, fãs, já é o bastante.
'Papo de Cinemateca - Porque Cinema e Diversão é com a Gente Mesmo.'
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