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PiTacO do PapO! 'Dunkirk' - Crítica 2

NOTA 9.2

Um relato barulhento sobre uma história quase esquecida.


Por Vinícius Martins @cinemarcante


O nome de Christopher Nolan está ligado na mente coletiva com a palavra “espetáculo”. Seus filmes são um deleite aos olhos, e o bom uso de efeitos práticos e mais orgânicos dá um tempero a mais às suas narrativas surreais. Em ‘Dunkirk’, o novo filme do cineasta realizador do brilhante ‘A Origem’ e do absurdo ‘Interestelar’ (absurdo em todos os sentidos), o público se depara com uma narrativa mais “pé no chão”, contada em uma riqueza avassaladora de detalhes com três pontos de vista sobre um mesmo fato histórico: a 'Operação Dínamo', que tinha como objetivo retirar centenas de milhares de homens da baía de Dunquerque, na França.

A opção de Nolan em contar sua história de maneira não linear (opa, aqui tem uma referência à ‘A Chegada’) é um acerto. Não há incômodo em ver e rever a mesma cena duas, três vezes, porque mesmo já sabendo exatamente o que acontecerá se torna inevitável a expectativa criada em torno do que está acontecendo. E muito disso se deve também ao trabalho do compositor da trilha sonora. A trilha ritmada de Hans Zimmer, sempre lembrando ao espectador da passagem constante do tempo e da importância de superá-la na luta pela sobrevivência, cresce e se desenvolve com uma tensão única dentre as diversas trilhas do compositor. Em meio aos tiros, bombas e gritos de dor, os lamentos dos tons de Zimmer se mesclam entre o melancólico e o urgente, criando uma atmosfera de sofrimento e angústia para quem consegue se colocar no lugar daqueles homens sofridos que tentam a todo custo sair das areias de Dunquerque. E junto ao espetáculo visual de explosões em um ritmo acelerado e quase sempre mudo, fica fácil a contemplação da vida e da morte dentro de uma bolha de ondas, naufrágios e pânico em que aquela praia se tornou.


No filme, acompanha-se a jornada de um jovem soldado inglês em sua famigerada luta pela sobrevivência em seu complicado retorno para casa. O protagonismo do desconhecido Fionn Whitehead é de fácil empatia; um rosto desconhecido dentre tantos outros rostos desconhecidos, e histórias não contadas sobre aquela praia onde milhares de homens viveram uma amostra do inferno na terra. Em contraponto, vemos o desbravar de “marinheiros de final de semana” para resgatar os sobreviventes e também os dilemas dos aviadores que rumaram para Dunquerque a fim de evitar um massacre ainda maior.

No entanto, há um problema visível; na verdade, um incômodo. Lembro que da primeira vez que assisti ‘Jurassic World’ estava extasiado demais para me dar conta de alguns erros de sequência, e foi depois de assistir pela terceira vez é que reparei no quão grotesca é a iluminação na cena inicial dos raptores. O sol muda de ângulo a cada novo frame, e até hoje aquilo me tira a magia do filme. O mesmo acontece em ‘Dunkirk’, com cenas onde o sol muda de lugar num piscar de olhos e as sombras rebolam nas ondas ou nas dunas. Além desse ponto, a névoa também se faz densa e fina em uma mesma cena de resgate, onde o personagem de Cillian Murphy está sobre um navio naufragado, variando de acordo com a angulação da câmera. Isso estraga o filme e a experiência de assisti-lo? Não. Mas o tira do patamar de irretocável.

‘Dunkirk’ é uma obra prima, sem dúvidas, mas falta emocionar. É tenso, ágil e bem simples em sua essência, mas não arranca lágrimas; não que provocar choro seja pré-requisito para que algum filme seja uma obra de arte, mas determinados temas pedem uma sensibilidade que aqui fugiu da mão do diretor e roteirista. Tecnicamente falando, com a excelente distribuição do áudio para o IMAX e com o visual fidelíssimo que está nos uniformes e embarcações (o Moonstone é demasiado charmoso), o filme é excelente. Entretanto, seu pecado talvez seja ficar inerte demais aos posicionamentos políticos que cercam a história daquela fuga miraculosa. Provavelmente a coisa que mais me lembrarei desse filme, é a expressão de terror nos olhos do Comandante Bolton (Kenneth Branagh) a cada novo som vindo do céu. 



Super Vale Ver ! 

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