Dica do Papo! 'Love is The Devil' - 1998
'Love is The Devil - Study for a Portrait of Francis Bacon' é muito mais que um longa de temática LGBT, o filme além de ser também uma cinebiografia, tem uma linguagem diferenciada dentro do gênero, o tipo de produção que já nasceu um cult, mesmo claro, não tendo agradado à todo mundo.
O filme, que é a cinebio do pintor britânico Francis Bacon e interpretado por Derek Jacobi, se passa na década de 1960, quando Bacon surpreende um assaltante ao convidá-lo para compartilhar sua cama. O assaltante , George Dyer (Daniel Craig), é 30 anos mais jovem que o pintor, e surpreendentemente aceita a proposta. Bacon descobre que Dyer possui uma amoralidade e inocência envolventes. Eles passam a viver um romance, no qual, sexualmente, Dyer domina o masoquista pintor. Essa relação complicada é também recheada de drogas, bebidas, traições, que fazem com que o relacionamento fuja do controle.
Bacon foi um dos artistas do século XX que exprimiu, através de sua pintura, a tragédia da existência de maneira mais realÃstica representando os dramas da condição humana, num sentido oculto, subjetivo, violento e trágico. No inÃcio da sua produção artÃstica, as estéticas cubista e expressionista foram seus alicerces, representações de figuras solitárias, violência masculina ligada à tensão homo afetiva, imagens sofredoras, anômalas, deformadas, vorazes, tendo sempre como ponto de partida sua própria vida.
Durante muito tempo o seu objetivo foi o de capturar a expressão instintiva e animal da dor. Uma das caracterÃsticas da Arte Moderna, a qual pertence à obra de Francis Bacon, tem como objetivo o desapego à estética clássica, deformando assim a figura humana com a intenção de provocar a reação e de estimular pronunciamentos, entre as quais não se pode excluir o destino interior do ser humano.
O filme que tem a direção do inglês John Maybury, ao meu modo de ver, captura muito bem essa inquietação de Bacon, e ainda insere um segundo personagem, Dyer, que também é excêntrico e abalado psicologicamente, que tinha pesadelos toda noite, talvez pela condição em que se via, ou mesmo por se sujeitar aos maus tratos e à humilhação de Bacon. Esses mesmos pesadelos parecem fazer parte da pintura expressionista e que também parece fazer menção à essa inversão de papéis: o algoz passa a ser dominado, e o dominado passa a ser algoz.
O cinema nunca se envergonhou de investigar o desejo homossexual, desde que tudo terminasse em lágrimas, e de preferência com sangue e suor também. Mas "Love is The Devil" pode frustrar um público especÃfico porque se recusa a mostrar dados explÃcitos da patologia de seus personagens. O filme é cheio de imagens de aprisionamento - para Jean Cocteau, o espelho era um portão mágico para outras dimensões, mas no filme de Maybury ele enjaula aqueles que o apreciam.
Muitas das tomadas são compostas como reflexos múltiplos em espelhos ou superfÃcies de prata, ou destorcidas imagens espiadas pela curva de um copo. Maybury não teve permissão para usar as pinturas de Bacon no filme, e essa restrição lhe deu uma liberdade inesperada. Colocada ao longo de exemplos do trabalho do próprio artista, a evocação de sua essência no filme poderia parecer domável demais.
Eu não disse que 'Love is The Devil' tinha muito mais pra dizer do que uma simples relação homo afetiva tempestuosa e impregnada de arte?
O filme, que está disponÃvel no catálogo da Netflix, é cheio de frases de efeito fortes e expressões que são um verdadeiro tapa na cara da hipocrisia - não sei se o longa representa fielmente o que foi esse episódio na vida do pintor, mas que acaba por ser uma obra diferenciada dentro de um gênero agora tão mais explorado que há quase 20 anos atrás, isso é inegável.
O filme, que é a cinebio do pintor britânico Francis Bacon e interpretado por Derek Jacobi, se passa na década de 1960, quando Bacon surpreende um assaltante ao convidá-lo para compartilhar sua cama. O assaltante , George Dyer (Daniel Craig), é 30 anos mais jovem que o pintor, e surpreendentemente aceita a proposta. Bacon descobre que Dyer possui uma amoralidade e inocência envolventes. Eles passam a viver um romance, no qual, sexualmente, Dyer domina o masoquista pintor. Essa relação complicada é também recheada de drogas, bebidas, traições, que fazem com que o relacionamento fuja do controle.
Bacon foi um dos artistas do século XX que exprimiu, através de sua pintura, a tragédia da existência de maneira mais realÃstica representando os dramas da condição humana, num sentido oculto, subjetivo, violento e trágico. No inÃcio da sua produção artÃstica, as estéticas cubista e expressionista foram seus alicerces, representações de figuras solitárias, violência masculina ligada à tensão homo afetiva, imagens sofredoras, anômalas, deformadas, vorazes, tendo sempre como ponto de partida sua própria vida.
Durante muito tempo o seu objetivo foi o de capturar a expressão instintiva e animal da dor. Uma das caracterÃsticas da Arte Moderna, a qual pertence à obra de Francis Bacon, tem como objetivo o desapego à estética clássica, deformando assim a figura humana com a intenção de provocar a reação e de estimular pronunciamentos, entre as quais não se pode excluir o destino interior do ser humano.
O filme que tem a direção do inglês John Maybury, ao meu modo de ver, captura muito bem essa inquietação de Bacon, e ainda insere um segundo personagem, Dyer, que também é excêntrico e abalado psicologicamente, que tinha pesadelos toda noite, talvez pela condição em que se via, ou mesmo por se sujeitar aos maus tratos e à humilhação de Bacon. Esses mesmos pesadelos parecem fazer parte da pintura expressionista e que também parece fazer menção à essa inversão de papéis: o algoz passa a ser dominado, e o dominado passa a ser algoz.
O cinema nunca se envergonhou de investigar o desejo homossexual, desde que tudo terminasse em lágrimas, e de preferência com sangue e suor também. Mas "Love is The Devil" pode frustrar um público especÃfico porque se recusa a mostrar dados explÃcitos da patologia de seus personagens. O filme é cheio de imagens de aprisionamento - para Jean Cocteau, o espelho era um portão mágico para outras dimensões, mas no filme de Maybury ele enjaula aqueles que o apreciam.
Muitas das tomadas são compostas como reflexos múltiplos em espelhos ou superfÃcies de prata, ou destorcidas imagens espiadas pela curva de um copo. Maybury não teve permissão para usar as pinturas de Bacon no filme, e essa restrição lhe deu uma liberdade inesperada. Colocada ao longo de exemplos do trabalho do próprio artista, a evocação de sua essência no filme poderia parecer domável demais.
Eu não disse que 'Love is The Devil' tinha muito mais pra dizer do que uma simples relação homo afetiva tempestuosa e impregnada de arte?
O filme, que está disponÃvel no catálogo da Netflix, é cheio de frases de efeito fortes e expressões que são um verdadeiro tapa na cara da hipocrisia - não sei se o longa representa fielmente o que foi esse episódio na vida do pintor, mas que acaba por ser uma obra diferenciada dentro de um gênero agora tão mais explorado que há quase 20 anos atrás, isso é inegável.
'Papo de Cinemateca - Muito Cinema pra Todo Mundo.'
Deixe seu Comentário: