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Dica do Papo! 'O Abrigo' - 2011


Apesar de não ser um diretor badalado, o americano Jeff Nichols já pode ser considerado um nome consolidado nos bastidores do cinema. Mesmo com poucos anos de carreira (cerca de dez), o cara já entregou ao mundo da sétima arte, o que eu chamaria de pequenas obras primas. Todas com muita personalidade e características únicas. A tirar por seus trabalhos lançados até agora, o diretor demonstra um carisma multifacetado para o suspense (ou o flerte com ele), o drama, e ainda romance. 


Na dica de hoje, escolhi 'O Abrigo', que ainda era apenas seu segundo trabalho, mas que já firmava o nome do diretor como uma grande promessa para os anos vindouros, o que se confirmou com os excepcionais 'Amor Bandido' (2012), 'Destino Especial' (2016) - injustiçado pela mídia em geral na minha opinião- e ainda 'Loving' (2017) , que inclusive rendeu indicações ao Oscar. 

Bem, mas falemos de 'O Abrigo':  No filme, Curtis LaForche (Michael Shannon) é um homem trabalhador e dedicado à família, ele vive com a esposa, Samantha (Jessica Chastain), e com sua filha ainda pequena, que é portadora de uma deficiência auditiva. Eles enfrentam problemas como qualquer outro casal (a doença da filha é um deles), no entanto eles possuem uma vida invejável, capaz até de despertar a admiração de seus conhecidos. 

Contudo,  a estabilidade da família passa a ser ameaçada quando Curtis começa a ter sonhos e visões, nos quais ele se vê indefeso diante de estranhas pragas e de uma tempestade apocalíptica. Tais premonições vão se tornando cada vez mais frequentes na vida dele, o que o leva a tomar a decisão de reforçar e aumentar o abrigo anti-tormenta que ele tem em sua propriedade. Ele se torna então cada vez mais paranoico e a construção do abrigo se torna uma obsessão, ele tenta dissimular tudo que está lhe acontecendo, tanto em casa quanto no trabalho, no entanto chega um momento em que sua aparente loucura vem à tona... o que representará uma ameaça em todos os seguimentos de sua vida. 

Com respeito ao filme, existem as mais variadas analogias, inclusive bíblicas: há quem trace paralelos com as escrituras sagradas, como a Arca de Noé por exemplo, em que o herói bíblico cria desconforto entre aqueles que conviviam com ele que o acusavam de louco quando ele dizia que tinha recebido ordens de Deus para a construção de uma arca, para salvar a criação do dilúvio. Sim, é uma clara referência. Mas não dá pra negar outras muitas usadas por Nichols, como a da sequência final, quando pássaros negros caem do céu - lembrou de Hitchcok ?  Bingo!  

Se distanciando com total segurança de soluções fáceis do cinema contemporâneo, a história em si de “O Abrigo” reserva uma dose considerável de surpresas e competência em sua realização que o diferencia de um punhado de outras produções semelhantemente medíocres. Jeff Nichols demonstra total consciência do produto que quer realizar: deixando de lado sustos elaborados e exageros gritantes que são solicitações de produtores equivocados, o roteiro de Jeff Nichols é bem mais centrado no poder da sugestão, e essa objetividade confere contornos fascinantes ao filme. O desenvolvimento da trama, inegavelmente enxuto, não deixa pistas fáceis para o desfecho, nos prendendo ao turbilhão de emoções vividas pelo protagonista. E essas emoções são brilhantemente materializadas pela interpretação de Michael Shannon, um ator que de posse de um bom roteiro e um papel de profundidade é capaz de surpreender como poucos atores em vigor no cinema hollywoodiano. Sobretudo, a presença da belíssima Jessica Chaistain colabora com perfeição para o conjunto de interpretações que ainda tem nomes como Kathy Baker, Tova Stewart e Shea Whigham. Apresentando efeitos visuais atinados e uma trilha sonora que proporciona intensidade nos momentos certos, há uma série de aspectos que impulsionam essa obra para nível de excelência espetacular.

'Take Shelter' (no original, como o próprio título brilhantemente sugere) fala sobre ter abrigo nos momentos incertos. Fala de amor, fala de confiança. Tudo isso sendo usado tanto de maneira figurada, lúdica,  como também de maneira prática, literal. 

Resumindo: cinema de primeira. 






'Papo de Cinemateca - Muito Cinema pra Todo Mundo.'

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