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PiTacO do PapO - 'A Glória e a Graça' (2017)

NOTA 7.8


O cinema nacional tem bebido das mais variadas fontes ultimamente. Temos enfim aprendido com nossos vizinhos argentinos à valorizar o cinema que abraça as relações, o comportamento humano. 'A Glória e a Graça' , que passou pelos cinemas em março e está disponível on demand, pode até se apoiar num texto batido, mas ainda sim alcança seu objetivo: se tornar um drama que gera questionamentos.

O longa tem seu início com Graça (Sandra Corveloni) descobrindo que tem um aneurisma fatal e que precisa mais do que deixar sua vida em ordem, deixar seus filhos – Papoula (Sofia Marques), de 15 anos, e Moreno (Vicente Demori), de oito – amparados. Ela entra, portanto, em contato com Luis Carlos, o irmão com quem não fala há 15 anos. Só que Luis Carlos agora é Glória e é a partir dessa aproximação desajeitada que o filme se constrói dramaticamente.

Sabendo que nosso país em se tratando de cinema também flerta com a chamada linha de produção, onde impera a comédia pastelão, ver exemplos como 'A Glória e a Graça' é nada mais do que inspirador. A abordagem na direção do veterano Flávio R. Tambellini é tipicamente vista em filmes europeus e latinos e tem na mensagem central, força suficiente para driblar eventuais deslizes no roteiro.  Texto esse à cargo do jovem roteirista Mikael de Albuquerque, que tem aqui seu primeiro roteiro filmado. O processo até a concretização da obra foi bem longo, e demorou nove anos desde a ideia inicial até o filme pronto. Para trabalhar ao lado de Albuquerque polindo o texto, foi chamado o mais experiente Lusa Silvestre, dos ótimos Estômago (2008), Mundo Cão (2016) e O Roubo da Taça (2016).

À primeira vista me pareceu arriscado ver uma mulher escalada para fazer um travesti, mas logo de cara percebemos que a escolha não poderia ser mais acertada: Carolina Ferraz se apropria do gestual e com ajuda de uma prótese na boca, a fisionomia da atriz que já é um tanto quanto forte, ganha silhuetas muito próximas de um cisgênero.  Felizmente a trama não se apoia nas escolhas de José Carlos/Glória  e segue a narrativa focada nesse reencontro e na decisão difícil que haveria de ser tomada. É claro que numa história envolvendo um protagonista que é alvo de violência em razão de preconceito, é natural que existisse um desfecho que colidisse com a motivação inicial da trama - o que acaba funcionando bem nessa altura do longa. 

Por exaltar as diferenças e tratar o assunto de forma natural, ainda que o drama se desenrole sem muitos conflitos, 'A Glória e a Graça' se estabelece com originalidade num cinema que ainda está galgando seu espaço e sua identidade dentro da indústria do entretenimento. 


Vale Ver ! 





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