PiTacO do PapO - 'Lou' | 2018
NOTA 8.0
Por Rogério Machado
O primeiro frame de 'Lou' mostra uma montanha livros pegando fogo enquanto um discurso acalorado e raivoso de Hitler acontece ao fundo condenando a obra de Freud, Nietzsche e outros nomes da psicanálise que fizeram história. Nada que exaltasse o intelecto, que tivesse nuances eróticas ou, como a nazismo costumava dizer, o menor resquÃcio de subversão, deveria permanecer intacto. À partir daÃ, o que se segue é uma história divida em duas narrativas: a primeira, que ditam os rumos de sua trajetória, quando Lou estava já no fim da vida, e aos 72 anos convida o jovem escritor Ernst Pfeiffer para escrever sua biografia , e a segunda, e mais predominante, que mostra sua infância e juventude.
A cinebio acompanha a escritora, filósofa e psicanalista Lou Andreas-Salomé (Katharina Lorenz) que decide reescrever suas memórias aos 72 anos. Ela relembra sua juventude em meio à comunidade alemã de São Petersburgo. Desde criança, sonhava em ser intelectual e estava determinada a nunca se casar ou ter filhos. Além de trabalhar com nomes famosos, ela escreve sobre os relacionamentos conturbados com Nietzsche e Freud, além da paixão por Rilke e conflitos entre autonomia e intimidade, junto com o desejo de viver sua liberdade.
Liberdade essa que apareceu muito cedo quando ela ainda era apenas uma criança: há uma cena interessante quando a menina é desafiada por um dos irmãos (Lou era a única mulher dentre os 6 filhos) a subir numa árvore para alcançar um fruto. Ela obviamente cai da árvore e é amparada pelo pai, que afirma que lugar de menina brincar é dentro de casa, que imediatamente devolve com uma pergunta: porquê? Ela então solicita ao pai sapatos como o do irmão.
Lou não aceitava cercear sua liberdade em virtude de um homem ou uma famÃlia, por isso evitou as paixões. Essa postura feminista tinha efeito contrário: Lou virou objetivo de conquista dos filósofos Friedrich Nietzsche e Paul Rée, e ainda o doce poeta Rainer Rilke, o único a quem ela realmente amou por alegar que era um homem com um lado feminino muito latente. Talvez o enfoque da diretora Cordula Kablitz-Posterre (estreando na direção) justamente erre aÃ: em dar muito atenção à esse fascÃnio que os homens tinham por ela e deixe tantas outras coisas relativas aos feitos da filósofa que mereciam ser contados de lado. De qualquer forma, a condução é atraente ao público, até mesmo para aqueles que (assim como eu) não tinham muito conhecimento sobre a vida de Lou.
A capacidade filosófica de Lou Andreas Salomé e as 17 obras que escreveu
(parte delas justamente sobre a feminilidade e o erotismo), aparecem de forma secundária, por citações, ou ainda como elo de ligação entre a protagonista e outros personagens masculinos que fizeram parte de sua vida. O nazismo censurou várias das publicações de Salomé, que faleceu em 1937. Graças a Pfeiffer, seu interlocutor no filme, elas foram resgatadas e relançadas após o fim da Segunda Guerra Mundial. No cinema, Lou já havia aparecido em 'Além do Bem e do Mal' (1977), da italiana Liliana Cavani, que também explora sua vida amorosa, assim como 'Quando Nietzsche Chorou' (2007), de Pinchas Perry, adaptado do romance de mesmo nome do psicanalista Irvin D. Yalom.
Vale Ver !
Por Rogério Machado
O primeiro frame de 'Lou' mostra uma montanha livros pegando fogo enquanto um discurso acalorado e raivoso de Hitler acontece ao fundo condenando a obra de Freud, Nietzsche e outros nomes da psicanálise que fizeram história. Nada que exaltasse o intelecto, que tivesse nuances eróticas ou, como a nazismo costumava dizer, o menor resquÃcio de subversão, deveria permanecer intacto. À partir daÃ, o que se segue é uma história divida em duas narrativas: a primeira, que ditam os rumos de sua trajetória, quando Lou estava já no fim da vida, e aos 72 anos convida o jovem escritor Ernst Pfeiffer para escrever sua biografia , e a segunda, e mais predominante, que mostra sua infância e juventude.
A cinebio acompanha a escritora, filósofa e psicanalista Lou Andreas-Salomé (Katharina Lorenz) que decide reescrever suas memórias aos 72 anos. Ela relembra sua juventude em meio à comunidade alemã de São Petersburgo. Desde criança, sonhava em ser intelectual e estava determinada a nunca se casar ou ter filhos. Além de trabalhar com nomes famosos, ela escreve sobre os relacionamentos conturbados com Nietzsche e Freud, além da paixão por Rilke e conflitos entre autonomia e intimidade, junto com o desejo de viver sua liberdade.
Liberdade essa que apareceu muito cedo quando ela ainda era apenas uma criança: há uma cena interessante quando a menina é desafiada por um dos irmãos (Lou era a única mulher dentre os 6 filhos) a subir numa árvore para alcançar um fruto. Ela obviamente cai da árvore e é amparada pelo pai, que afirma que lugar de menina brincar é dentro de casa, que imediatamente devolve com uma pergunta: porquê? Ela então solicita ao pai sapatos como o do irmão.
Lou não aceitava cercear sua liberdade em virtude de um homem ou uma famÃlia, por isso evitou as paixões. Essa postura feminista tinha efeito contrário: Lou virou objetivo de conquista dos filósofos Friedrich Nietzsche e Paul Rée, e ainda o doce poeta Rainer Rilke, o único a quem ela realmente amou por alegar que era um homem com um lado feminino muito latente. Talvez o enfoque da diretora Cordula Kablitz-Posterre (estreando na direção) justamente erre aÃ: em dar muito atenção à esse fascÃnio que os homens tinham por ela e deixe tantas outras coisas relativas aos feitos da filósofa que mereciam ser contados de lado. De qualquer forma, a condução é atraente ao público, até mesmo para aqueles que (assim como eu) não tinham muito conhecimento sobre a vida de Lou.
A capacidade filosófica de Lou Andreas Salomé e as 17 obras que escreveu
(parte delas justamente sobre a feminilidade e o erotismo), aparecem de forma secundária, por citações, ou ainda como elo de ligação entre a protagonista e outros personagens masculinos que fizeram parte de sua vida. O nazismo censurou várias das publicações de Salomé, que faleceu em 1937. Graças a Pfeiffer, seu interlocutor no filme, elas foram resgatadas e relançadas após o fim da Segunda Guerra Mundial. No cinema, Lou já havia aparecido em 'Além do Bem e do Mal' (1977), da italiana Liliana Cavani, que também explora sua vida amorosa, assim como 'Quando Nietzsche Chorou' (2007), de Pinchas Perry, adaptado do romance de mesmo nome do psicanalista Irvin D. Yalom.
Vale Ver !
DIREÇÃO
- Cordula Kablitz-Post
EQUIPE TÉCNICA
Roteiro: Cordula Kablitz-Post, Susanne Hertel
Produção: Cordula Kablitz-Post, Gabriele Kranzelbinder, Helge Sasse
Fotografia: Matthias Schellenberg
Trilha Sonora: Judit Varga
Estúdio: Avanti Media Fiction, KGP Kranzelbinder Gabriele Production, Tempest Film
Montador: Beatrice Babin
Distribuidora: Bodega Films, Wild Bunch Benelux
ELENCO
Aaron Karl, Alexander Scheer, Birte Carolin Sebastian, Carl Achleitner, Daniel Sträßer, Harald Schrott, Helena Pieske, Julius Feldmeier, Katharina Lorenz, Katharina Schüttler, Katrin Hansmeier, Liv Lisa Fries, Magdalena Kronschläger, Marcel Hensema, Mariel Jana Supka, Matthias Lier, Merab Ninidze, Nicole Heesters, Peter Simonischek, Petra Morzé, Philipp Hauß, Ruth Reinecke, Wladimir Tarasjanz
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