PiTacO do PapO! 'Círculo de Fogo : A Revolta' | 2018
NOTA 7.5
Rodando em círculos...
Por Vinícius Martins @cinemarcante
Existe uma espécie de lenda - ou tabu - no universo do cinema que diz que uma sequência dificilmente será melhor que seu original. Isso é dito porque quando um filme (preferencialmente um material inédito) é bom e surpreende o público de uma forma positiva, a espera pela segunda parte a coloca em uma posição onde há a cobrança pela entrega de um resultado ainda melhor, superior ao seu antecessor. Acontece que, na imensa maioria das vezes, o primeiro filme tem a benção da baixa expectativa, o que leva o espectador a se surpreender com o espetáculo e a pensar “nossa, eu não dava nada por esse filme e ele é muito bom!”. Essa “benção” não é um capricho dado à sequência, e ninguém vai assistir um filme 2 despretensiosamente. Foi assim com 'Vingadores’ 1 e 2 (2012 - 2015) e ‘Kingsman’ 1 e 2 (2015 - 2017), por exemplo; e com 'Círculo de Fogo’, obra-prima de Guillermo Del Toro lançada em 2013, não foi diferente.
Não demorou para que o embate épico entre robôs gigantes e monstros alienígenas igualmente gigantes se tornasse um clássico cult contemporâneo, com suas inúmeras homenagens à cultura japonesa de monstros colossais, chamados Kaijus. Mesmo não tendo o mesmo peso de franquias já consolidadas e nem criando legiões de fãs, ele conseguiu empolgar graças ao primoroso trabalho de seu diretor em querer tornar tudo visualmente “tocável”. E agora, com a nova geração de pilotos, é inevitável comparar o longa de cinco anos atrás com 'Círculo de Fogo: A Revolta’, que estreou encabeçando a penúltima semana de março de 2018. A distância entre o tom deles é um contraste tão grande quanto o que há sobre a nobreza e a plebe; existem no mesmo universo, mas tirando a luz do sol e as colinas no horizonte (nesse caso, monstros e robôs), não há muita coisa que sobre em comum. Tudo está diferente, desde a estética menos orgânica das bestas até o cerne de alguns personagens. O roteiro acrescenta alguns elementos interessantes e até bons ao universo, mas não chega a ser um prodígio. Todavia, o problema grandioso (ba-dum-tiss) desse filme é a sua incapacidade de provocar empatia.
Não tem como se importar com os problemas vividos pelos protagonistas porque, ao que parece, nem eles se importam muito. Não dá pra sentir a urgência apocalíptica de que tanto falam, e isso faz com que os socos dados entre os gigantes soe como pirotecnia descompromissada. E o pior é que nem essa parte é feita direto, já que existe uma aparente falta de sincronismo entre o elenco.
Para um Yeager funcionar (o robozão que é controlado por duas pessoas), é necessário uma sintonia perfeita entre os pilotos, em uma conexão que, para ser reproduzida no contexto audiovisual, exige um tato enorme para conduzir a coreografia dos atores em um tipo inovador de ballet do bizarro. E isso não acontece no novo filme, infelizmente. O espectador não sente nem vê a existência da conexão neural entre os pilotos, que mesmo tendo essa ponte mental um com o outro, insistem em anunciar em voz alta o que eles mesmos já sabem (afinal estão dentro da cabeça um do outro, não é mesmo?) e que o público está assistindo.
A mão do visionário Del Toro faz falta. No longa de 2013, a fotografia era digna de Oscar e o 3D tinha uma profundidade colossal (uma das melhores que já vi em IMAX). A perspectiva era o que dava o tom do filme, como se dançasse um tango com a ação. O jogo de câmera era impecável, e transmitia a dimensão precisa do tamanho dos monstros e máquinas com seu excelente trabalho de proporção e escala (diferente dos filmes da franquia ‘Transformers’, que tem robôs que numa hora tem 6 metros e na outra tem 60). Falando abertamente, já que sou fã declarado do primeiro filme, a tal lenda de Hollywood se aplica aqui perfeitamente. Não só falta textura e profundidade como também falta um propósito. O primeiro filme era redondinho, já esse começa num ponto, dá uma volta enorme e pára onde começou, com o mesmo nível de ameaça. E ainda há a promessa de aprimorar a tecnologia e ir atrás dos ETs na possível terceira parte, como Roland Emmerich fez em 2016 no trágico 'Indepence Day: O Ressurgimento’.
É triste ver um filme carregado de elementos excelentes ser apresentado como apenas mais uma sequência inferior. Apesar do bom entretenimento e das piadinhas pontuais, ‘Círculo de Fogo: A Revolta’ deixa muito a desejar. Faltou aquele discurso sobre cancelar o apocalipse, que dá vontade de seguir quem o dita rumo a batalha a ser travada. Se não dá para ressuscitar o Idris Elba, então que tragam o Charlie Hunnam de volta! Quem sabe além de salvar o dia, ele também não salve o futuro da franquia…
Vale Ver !
Rodando em círculos...
Por Vinícius Martins @cinemarcante
Existe uma espécie de lenda - ou tabu - no universo do cinema que diz que uma sequência dificilmente será melhor que seu original. Isso é dito porque quando um filme (preferencialmente um material inédito) é bom e surpreende o público de uma forma positiva, a espera pela segunda parte a coloca em uma posição onde há a cobrança pela entrega de um resultado ainda melhor, superior ao seu antecessor. Acontece que, na imensa maioria das vezes, o primeiro filme tem a benção da baixa expectativa, o que leva o espectador a se surpreender com o espetáculo e a pensar “nossa, eu não dava nada por esse filme e ele é muito bom!”. Essa “benção” não é um capricho dado à sequência, e ninguém vai assistir um filme 2 despretensiosamente. Foi assim com 'Vingadores’ 1 e 2 (2012 - 2015) e ‘Kingsman’ 1 e 2 (2015 - 2017), por exemplo; e com 'Círculo de Fogo’, obra-prima de Guillermo Del Toro lançada em 2013, não foi diferente.
Não demorou para que o embate épico entre robôs gigantes e monstros alienígenas igualmente gigantes se tornasse um clássico cult contemporâneo, com suas inúmeras homenagens à cultura japonesa de monstros colossais, chamados Kaijus. Mesmo não tendo o mesmo peso de franquias já consolidadas e nem criando legiões de fãs, ele conseguiu empolgar graças ao primoroso trabalho de seu diretor em querer tornar tudo visualmente “tocável”. E agora, com a nova geração de pilotos, é inevitável comparar o longa de cinco anos atrás com 'Círculo de Fogo: A Revolta’, que estreou encabeçando a penúltima semana de março de 2018. A distância entre o tom deles é um contraste tão grande quanto o que há sobre a nobreza e a plebe; existem no mesmo universo, mas tirando a luz do sol e as colinas no horizonte (nesse caso, monstros e robôs), não há muita coisa que sobre em comum. Tudo está diferente, desde a estética menos orgânica das bestas até o cerne de alguns personagens. O roteiro acrescenta alguns elementos interessantes e até bons ao universo, mas não chega a ser um prodígio. Todavia, o problema grandioso (ba-dum-tiss) desse filme é a sua incapacidade de provocar empatia.
Não tem como se importar com os problemas vividos pelos protagonistas porque, ao que parece, nem eles se importam muito. Não dá pra sentir a urgência apocalíptica de que tanto falam, e isso faz com que os socos dados entre os gigantes soe como pirotecnia descompromissada. E o pior é que nem essa parte é feita direto, já que existe uma aparente falta de sincronismo entre o elenco.
Para um Yeager funcionar (o robozão que é controlado por duas pessoas), é necessário uma sintonia perfeita entre os pilotos, em uma conexão que, para ser reproduzida no contexto audiovisual, exige um tato enorme para conduzir a coreografia dos atores em um tipo inovador de ballet do bizarro. E isso não acontece no novo filme, infelizmente. O espectador não sente nem vê a existência da conexão neural entre os pilotos, que mesmo tendo essa ponte mental um com o outro, insistem em anunciar em voz alta o que eles mesmos já sabem (afinal estão dentro da cabeça um do outro, não é mesmo?) e que o público está assistindo.
A mão do visionário Del Toro faz falta. No longa de 2013, a fotografia era digna de Oscar e o 3D tinha uma profundidade colossal (uma das melhores que já vi em IMAX). A perspectiva era o que dava o tom do filme, como se dançasse um tango com a ação. O jogo de câmera era impecável, e transmitia a dimensão precisa do tamanho dos monstros e máquinas com seu excelente trabalho de proporção e escala (diferente dos filmes da franquia ‘Transformers’, que tem robôs que numa hora tem 6 metros e na outra tem 60). Falando abertamente, já que sou fã declarado do primeiro filme, a tal lenda de Hollywood se aplica aqui perfeitamente. Não só falta textura e profundidade como também falta um propósito. O primeiro filme era redondinho, já esse começa num ponto, dá uma volta enorme e pára onde começou, com o mesmo nível de ameaça. E ainda há a promessa de aprimorar a tecnologia e ir atrás dos ETs na possível terceira parte, como Roland Emmerich fez em 2016 no trágico 'Indepence Day: O Ressurgimento’.
É triste ver um filme carregado de elementos excelentes ser apresentado como apenas mais uma sequência inferior. Apesar do bom entretenimento e das piadinhas pontuais, ‘Círculo de Fogo: A Revolta’ deixa muito a desejar. Faltou aquele discurso sobre cancelar o apocalipse, que dá vontade de seguir quem o dita rumo a batalha a ser travada. Se não dá para ressuscitar o Idris Elba, então que tragam o Charlie Hunnam de volta! Quem sabe além de salvar o dia, ele também não salve o futuro da franquia…
Vale Ver !
DIREÇÃO
- Steven S. DeKnight
EQUIPE TÉCNICA
Roteiro: Emily Carmichael, Kira Snyder, Steven S. DeKnight, T.S. Nowlin
Produção: Cale Boyter, Femi Oguns, Guillermo del Toro, John Boyega, Jon Jashni, Mary Parent, Thomas Tull
Fotografia: Dan Mindel
Trilha Sonora: Lorne Balfe
Estúdio: Legendary Pictures
Montador: Dylan Highsmith, Josh Schaeffer, Zach Staenberg
Distribuidora: Universal Pictures
ELENCO
Adria Arjona, Bridger Zadina, Burn Gorman, Cailee Spaeny, Charles Napoleon An, Charlie Day, Chen Zitong, Daniel Feuerriegel, Dustin Clare, Ellen McLain, Erik Aadahl, Ivanna Sakhno, Jai Day, Jaime Slater, Jasper Bagg, Jeong-hoon Kim, Jiaming Guo, Jim Punnett, Jin Zhang, John Boyega, Josh Stamberg, Karan Brar, Levi Meaden, Lily Ji, Louis Toshio Okada, Luke Judy, Mackenyu, Madeleine McGraw, Nancy Nugent, Nick E. Tarabay, Nick Satriano, Rahart Adams, Rinko Kikuchi, Rumi Kikuchi, Scott Eastwood, Shane Rangi, Shyrley Rodriguez, Stephanie Allynne, Tian Jing,, Tim Johnson Jr., Victor Matveev, Wesley Wong, Yingying Lan, Yongchen Qian, Zeppelin Hamilton
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