PiTacO do PapO - 'Vazante' | 2017
NOTA 8.5
Por Rogério Machado
No fim do ano passado quando 'Vazante' , novo filme da cineasta Daniela Thomas foi lançado e exibido no Festival de Brasília, a polêmica em cima do trabalho foi ensurdecedora: a diretora foi bombardeada de críticas ao retratar a grande maioria dos escravos como 'despidos de subjetividade, sem nomes ou falas'. O trabalho foi atribuído como um discurso que preservaria o status quo da opressão racial. Porém, com polêmica ou sem polêmica, - até porque cinema provoca visões diferenciadas -, o longa é de um impacto ímpar ao mostrar a escravidão e o cotidiano de uma fazenda pelo olhar de Beatriz (Luana Nastas), uma garota branca com 12 anos de idade.
A trama se passa no início do século dezenove, em uma fazenda tão imponente e decadente quanto seu senhor, Antônio (Adriano Carvalho), situada na região dos diamantes em Minas Gerais, onde brancos, negros nativos e recém-chegados da África sofrem com os conflitos e a incomunicabilidade gerada pela solidão e pelas tensões raciais e de gênero em um país que passa por um forte período de mudança.
Esse senhor de escravos às avessas e incomum, sofre por uma perda recente e logo providencia outra esposa, Beatriz, que ainda inexperiente e infantil, olha atenta tudo à sua volta. O relacionamento custou a ser consumado pois as regras da menina ainda não haviam ocorrido. Não demora muito para que ela se aproxime de um menino escravo, Virgílio (Vinícius dos Anjos) e se distancie do seu senhor , o que faz com que ele recorra aos favores sexuais de uma escrava, que por um acaso é mãe desse menino escravo com quem Beatriz tem essa relação de amizade e afeto. O destino desses senhores e escravos inevitavelmente estarão ligados para sempre e é nesse ponto que o filme até se mostra surpreendente ao deixar o impacto maior para o clímax e nos deixar completamente perplexos. Nos acostumamos com o modo até benevolente de Antônio e o dia a dia daquele lugar, que não nos damos conta que por trás de toda aquela aparente tranquilidade, existia uma guerra acontecendo dentro de cada um.
No que tange aos aspectos técnicos, o longa deixa sua marca através das sequências de extremo bom gosto onde a câmera passeia bem devagar tanto nos planos mais abertos quanto em closes nos itens da casa, na renda das sinhás ou nos dorsos de alguns personagens. A fotografia em preto e branco inteligentemente parece ressaltar ainda mais as diferenças entre brancos e negros, não só pela cor da pele mas pela vida que levavam. Não acredito pois, que Daniela Thomas tenha sido infeliz em sua abordagem, tudo que nos lembre de um passado que devemos nos envergonhar, serve para que não tornemos a cometer os mesmos erros. A mensagem ainda é válida, o mundo ainda não aprendeu a conviver com as diferenças.
Vale Ver !
Por Rogério Machado
No fim do ano passado quando 'Vazante' , novo filme da cineasta Daniela Thomas foi lançado e exibido no Festival de Brasília, a polêmica em cima do trabalho foi ensurdecedora: a diretora foi bombardeada de críticas ao retratar a grande maioria dos escravos como 'despidos de subjetividade, sem nomes ou falas'. O trabalho foi atribuído como um discurso que preservaria o status quo da opressão racial. Porém, com polêmica ou sem polêmica, - até porque cinema provoca visões diferenciadas -, o longa é de um impacto ímpar ao mostrar a escravidão e o cotidiano de uma fazenda pelo olhar de Beatriz (Luana Nastas), uma garota branca com 12 anos de idade.
A trama se passa no início do século dezenove, em uma fazenda tão imponente e decadente quanto seu senhor, Antônio (Adriano Carvalho), situada na região dos diamantes em Minas Gerais, onde brancos, negros nativos e recém-chegados da África sofrem com os conflitos e a incomunicabilidade gerada pela solidão e pelas tensões raciais e de gênero em um país que passa por um forte período de mudança.
Esse senhor de escravos às avessas e incomum, sofre por uma perda recente e logo providencia outra esposa, Beatriz, que ainda inexperiente e infantil, olha atenta tudo à sua volta. O relacionamento custou a ser consumado pois as regras da menina ainda não haviam ocorrido. Não demora muito para que ela se aproxime de um menino escravo, Virgílio (Vinícius dos Anjos) e se distancie do seu senhor , o que faz com que ele recorra aos favores sexuais de uma escrava, que por um acaso é mãe desse menino escravo com quem Beatriz tem essa relação de amizade e afeto. O destino desses senhores e escravos inevitavelmente estarão ligados para sempre e é nesse ponto que o filme até se mostra surpreendente ao deixar o impacto maior para o clímax e nos deixar completamente perplexos. Nos acostumamos com o modo até benevolente de Antônio e o dia a dia daquele lugar, que não nos damos conta que por trás de toda aquela aparente tranquilidade, existia uma guerra acontecendo dentro de cada um.
No que tange aos aspectos técnicos, o longa deixa sua marca através das sequências de extremo bom gosto onde a câmera passeia bem devagar tanto nos planos mais abertos quanto em closes nos itens da casa, na renda das sinhás ou nos dorsos de alguns personagens. A fotografia em preto e branco inteligentemente parece ressaltar ainda mais as diferenças entre brancos e negros, não só pela cor da pele mas pela vida que levavam. Não acredito pois, que Daniela Thomas tenha sido infeliz em sua abordagem, tudo que nos lembre de um passado que devemos nos envergonhar, serve para que não tornemos a cometer os mesmos erros. A mensagem ainda é válida, o mundo ainda não aprendeu a conviver com as diferenças.
Vale Ver !
DIREÇÃO
- Daniela Thomas
EQUIPE TÉCNICA
Roteiro: Beto Amaral, Daniela Thomas
Produção: Beto Amaral, Maria Ionescu, Sara Silveira
Fotografia: Inti Briones
Estúdio: Cisma Produções, Ukbar Filmes
Distribuidora: Europa Filmes
ELENCO
Adriano Carvalho, Fabrício Boliveira, Isadora Favero, Jai Baptista, Juliana Carneiro da Cunha, Luana Nastas, Roberto Audio, Sandra Corveloni, Toumany Kouyaté, Vinicius dos Anjos
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